sexta-feira, 26 de março de 2010

Sujos Factual - Duas histórias para exercitar a consciência crítica

Não há o que se discutir sobre a gravidade do assassinato de uma criança. A mobilização popular é justificável. Por se ter envolvido famílias de classe média/alta o clamor por justiça na grande mídia se ecoa por mais tempo. O apelo patético-emocional (passional) alimenta altas cifras do Ibope. É a tragédia de folhetim, versão vida real.

Mas, pensemos no espetáculo que se faz do julgamento. Quais as razões de se dar tanto destaque para tal caso? Garantir que os culpados paguem e apodreçam na cadeia pelo crime? Com tantas evidências que júri deixaria de condenar tão pavoroso ato? O ponto que quero chegar é que a atenção que a mídia dá ao caso é injustificável.

Considero a cobertura jornalística injustificável por qualificar esse crime inexplicável. Não é um crime que há como se prever, é um crime monstruoso de pessoas com boa formação e estrutura familiar. É algo que se acontece sem que se possa prever. É a loucura, é a falta de motivo, é o homem que perde a humanidade, a perversidade humana incontrolável.

O que se tem a esperar desse crime é a condenação do culpado, o que provavelmente acontecerá. E aconteceria sem os holofotes da imprensa. A imprensa só está presente nesse caso pelo Ibope. Não é caso de responsabilidade social como foi o caso do Menino João Hélio, vítima da violência social carioca, vítima da fome, vítima da falta de educação, vítima do tráfico, vítima da sociedade.

E, por que não há tanto esforço em ecoar a dor de João Hélio? Dar Ibope a uma vítima social pode ser inconveniente a imagem de quem governa e abalar a imagem turística de uma cidade como o Rio de Janeiro, é mais conveniente esconder que em cada esquina mora o perigo.

Terminando a reflexão: Noticiar deve significar mais do que somar pontos ao Ibope. Deve ter uma significação mais ampla. Ampliar a dor de alguém, não cura! Espetacularizar não cicatriza.

João Ninguém

4 comentários:

  1. Concordo plenamente... muitos homicídios como esse devem acontecer por aí e a midia gosta de pegar um caso que interesse o público, bombardeando por varios meses o mesmo... o maior exemplo disso foi a morte de Michael Jackson, ídolo mundial que reacendeu a chama do sucesso postumamente

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  2. "A religião não é o ópio do povo, mas o placebo das massas."

    Quanto ao caso do menino João Hélio, infelizmente um de seus algozes está preso na minha cidade. Mas a população é contra sua permanência lá...abaixo segue a notícia.

    http://www.avozdaserra.com.br/noticias.php?noticia=8572

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  3. Olá, João. Ótimo texto, assim como todos que vc escreve.
    Esse me deu uma luz, pois me ajuda na redação da UFF 2010, cujo tema é a espetacularização da mediocridade.
    Obrigada por tratar de temas importantes e atuais!
    Abç

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  4. Nossa sociedade é feita de espetáculos. Cutucar feridas desestrutura esse "belo" palco. Isso é Brasil.

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