quinta-feira, 23 de junho de 2011

Culto e Grosso - Quantos amigos você tem?

No último mês de março o Facebook ultrapassou a marca de 13 milhões de usuários no Brasil. Seguindo a tendência mundial, o Brasil se conecta ao site de Mark Zucherberg e vai gradativamente abandonando o até então líder Orkut. As redes sociais são inegavelmente um grande sucesso não de hoje, mas adaptadas para a internet de forma muito bem sucedida

Junto com o sucesso das redes sociais, vieram os milhares de especialistas em social media. É incrível pensar que algo tão recente já possui estudiosos tão profundos e gurus que são capazes de desvendar o funcionamento de algo orgânico e mutável. Isso as vezes parece até uma piada. Mas na verdade o assunto aqui nem será exatamente este. Vamos falar sobre o que move a rede, e que dá vida a este sistema. E na humilde opinião deste escriba, não é nenhuma novidade: status.

Para quem assistiu ao filme "A rede social", que conta o nascimento do Facebook percebeu o que é a sede pelo "querer aparecer". O Facebook nasceu em uma disputa para saber quem era a garota mais bonita de uma universidade. A partir de então a rede começou a crescer a para entender o resto assista ao filme. O lance é que sem status, a rede nunca cresceria. E status, no fim das contas é o que move o mundo. Felizmente ou infelizmente.

Diferente do Orkut, onde a informação era a interface do site, no Facebook a imagem é o início de tudo. E perceba o quão importante é ter uma imagem interessante ali no seu profile. Aquilo é como um anúncio do que será encontrado no interior da página. E veja que as informações do seu perfil ficam no interior das páginas. Para encontrar algo, que não sejam as imagens, é preciso procurar um bocado. No fim das contas, é o império da imagem a todo custo. O conteúdo? Esse fica para depois.

Outro ponto é a popularidade. Não importa se os seus amigos ali são próximos ou não. Não importa se você os conhece pessoalmente ou não. Não importa se algum dia você já trocou duas ou três palavras com eles ou não. Veja que há apenas uma única categoria (amigos) onde todos se encontram. Claro, é possível indexar seu profile aos seus familiares, mas em relação aos seus amigos, o que importa é o número. Quem tem mais, claro, é mais pop.

O interessante é que nada disso é novo, e os especialistas de plantão insistem em compreender uma novidade que já está aí desde os filmes americanos High School. E o padrão babaca tipo exportação também parece entrar com força total no país, já que o grande lance é manter uma imagem bonitona e uma rotina instigante em suaves posts diários para a sua audiência. É tudo muito bem conectado e amarrado para que a disputa pelo mercado da popularidade seja cada vez mais interessante.

A grande sacada foi conseguir mostrar o que é status visualmente e sem ser agressivo, de forma que todos, mesmo que de forma inconsciente, busquem tê-lo. Vai dizer que você nunca teve que responder a pergunta:

Quantos amigos você tem?

terça-feira, 21 de junho de 2011

Imagem Suja - Japão: um país em recuperação


Imagens de um país em recuperação. Nossos problemas são pequenos. Os créditos são para o Boston Big Picture.






Contos Sujos - Diálogo com a Morte - Parte 3


Se você não está acompanhando este conto, leia as primeiras partes logo aqui em baixo. Se está, manda bala na última!


Marcelo refletiu por um momento. Tinha agora um semblante bem mais tranqüilo. Passou a enxergar no Barman uma figura de extrema sabedoria e paz interior. Em seguida, com um leve sorriso, ponderou:

Marcelo: Mas, Sr. Morte, eu estou morto, não se lembra?
Barman: Ah, sim! (risadas) Você está morto.

Os dois caíram em gargalhadas, até que chegou o barco que levaria Marcelo até o Julgamento. Era um pequeno bote com dois remos. Curiosamente, ele chegou vazio.

Barman: Vamos lá, Marcelo. Vou te conduzir até a sala do Julgamento. Não tenha medo. Entre no barco.
Marcelo: Você me garante que não preciso ter medo?
Barman: Eu prometo. Repito, aqui não é a Terra. Não existe o medo.

O barco saiu em direção ao infinito do oceano. O Barman remava pacientemente, e os dois continuaram conversando.

Marcelo: Sabe, Sr. Morte, aqui parece ser muito melhor do que lá na Terra. Esse paraíso me passa agora uma paz que eu nunca tive.
Barman: Mas aí está o grande desafio de Deus, garoto. Encontrar a paz num ambiente caótico como tem sido a Terra. Aqui é muito fácil ter paz.

Os dois continuaram conversando, até que o celular do Barman tocou. Era Deus. Conversaram por algum tempo, até que o Barman desligou o celular e disse:

Barman: Bom, rapaz, nós temos aqui um engano. Você não devia estar morto.
Marcelo: O que?! Como assim?
Barman: É isso mesmo. O Senhor me contactou agora e me disse que houve um engano. Você está se recuperando no hospital. Está inconsciente, mas fisicamente está bem.
Marcelo: Impossível. Eu estou morto sim. Quero ficar aqui, não quero voltar para aquele inferno lá embaixo.
Barman: Mas não está na hora de você morrer. Você terá que voltar, Marcelo. Obedeço a ordens superiores.
Marcelo: Não, Sr. Morte, por favor. Não quero viver.
Barman: Sinto muito, garoto. Reencontraremos-nos novamente. Leve os aprendizados que você teve aqui e aproveite a vida. Ah, e não se candidate a nenhum cargo político.

O Barman pegou uma âncora no fundo do barco, enquanto Marcelo se mostrava confuso e cabisbaixo novamente. Em seguida, completou:

Barman: Irei amarrar essa âncora em um de seus pés. Em seguida você vai pular dentro d’água e vai acordar na Terra em pouco tempo.

O Barman foi andando em direção a Marcelo, que retrucou:

Marcelo: Vamos fazer negócio, Sr. Morte.
Barman: Aqui não tem negócio, garoto. Vamos amarrar isso em seus pés.

O Barman tentou entregar a âncora a Marcelo, porém este se assustou e começou a andar para trás. Deu dois passos e tropeçou na borda do barco, caindo dentro d’água.

Cerca de duas horas depois, Marcelo abriu os olhos. Estava no hospital, e sentindo-se muito bem, por sinal. Sua mãe soltou um grito de alegria, e em seguida começou a chorar. Mãe e filho se abraçaram, e começaram a conversar sobre os sentimentos que cada um teve durante a inconsciência de Marcelo. No fim do diálogo, sua mãe revelou:

Mãe: Marcelo, você disse algo, mais ou menos uma hora antes de acordar.
Marcelo: Ah, é? O que foi que eu disse?
Mãe: Acho que você disse: “Somos bons porque somos bons”

Arthur Viggi

Contos Sujos - Diálogo com a Morte - Parte 2


Se você não está acompanhando este conto, a primeira parte está logo aqui em baixo. Se está, manda bala na segunda!

O Barman, que estava agora limpando alguns copos, parou pacientemente e se virou novamente para Marcelo.

Barman: Olha, Marcelo, não existem mentiras desse lado. Você está morto mesmo. Sofreu um acidente de trânsito quando ia para a faculdade. Sinto muito, o que posso fazer agora é lhe conduzir ao Julgamento.

Marcelo: Julgamento? Que Julgamento?

Nesse momento Marcelo se beliscou várias vezes e até chutou uma cadeira para certificar-se de que não estava sonhando. Então, começou a chorar.

Marcelo: Como assim eu tô morto? Não é possível, eu sou muito jovem pra isso. Nem aproveitei a vida direito. Estudei pra cacete. Não faço mal a ninguém. Não posso morrer agora.
Barman: Mas você já morreu. E além disso, você vai se acostumar com este lado. Aqui não existem mentiras, nem lugares, nem dinheiro, nem desigualdade social, nem filósofos e nem advogados.
Marcelo: E quem é você afinal?
Barman: Não faça mais perguntas, por favor. As pessoas nunca gostam de mim depois que sabem quem eu sou.
Marcelo: Eu insisto. Você é minha única companhia nesse lugar e quero saber quem é você.
Barman: Tudo bem. Vou dar uma dica: meu nome começa com “M”.
Marcelo: Maluf?
Barman: Não, seu idiota! Eu sou a Morte. Sou o responsável por pegar as pessoas que estão vivas e levar para o Julgamento.
Marcelo: O que? Então foi você quem me trouxe até aqui?
Barman: Sim.
Marcelo: Seu cafajeste. Como pôde?
Barman: Eu te disse que ninguém gosta de mim. Por que insistiu em saber meu nome?

Marcelo sentou-se em uma das cadeiras e finalmente começou a beber o coquetel.
Estava agora fechado e cabisbaixo. O homem prosseguiu com a conversa:

Barman: Olha, as pessoas morrem, e a morte não tem idade. Você deve saber muito bem disso. Contente-se com a vida que teve e aceite o papel que está assumindo agora. Quanto mais facilitar as coisas, mais rápido sairá daqui. Deixe-me fazer meu trabalho.

Marcelo, que estava olhando pro chão e bebendo o coquetel, voltou a falar:

Marcelo: Mas você falou em Julgamento! E se eu for pro inferno?
Barman: Aqui não existe nem céu nem inferno. Nosso julgamento não é o julgamento que vocês usam na Terra. Aqui não existe Constituição, todas as pessoas já pagaram pelos seus erros quando estavam vivas. O Julgamento é um evento simbólico que representa o fim da vida e a plenitude da paz. Sem cadeias, sem advogados. No seu planeta as pessoas mais ricas utilizam seus recursos para acumular ainda mais recursos, sem se preocupar com a exploração da mão-de-obra, com as florestas e com o que vocês chamam de Lei. No final elas acabam se afogando na própria ganância. A sentença da Terra é o ódio e a rejeição. Aqui a sentença é a paz. As pessoas caminham juntas, sem distinção de classes. É uma versão transcendental do que vocês chamam de comunismo.

Marcelo: Entendi. Mas então quer dizer que as religiões estão erradas?

Barman: As religiões são uma má interpretação da idéia de Deus. Toda instituição humana tem corrupção e abusos, e a Igreja não é diferente. Ela se mistura com a política e costuma ter os mesmos interesses dos mais poderosos. Reproduz a lei dos homens na lei de Deus. Fala como se aqui existissem cadeias e cadeiras elétricas. Mas isso não se aplica, é claro, a todas as pessoas que participam dela. No entanto, as pessoas devem ter senso crítico. Devem ajudar aqueles que se mostram merecedores de ajuda. A solidariedade sem mediações é a melhor forma de entrar em contato com Deus, e muitos não percebem isso. Preferem procurar instituições burocráticas como a Igreja para alimentar seus espíritos. O conceito de Deus vai muito além do conceito de instituição. O homem, por si só, já carrega bondade, moral e ética dentro de si. Não é preciso ter uma religião para saber os mandamentos de Deus. Os mandamentos estão na genética humana. Quando somos amigos, compreensivos e benevolentes uns com os outros, a vida naturalmente nos devolve as coisas boas que semeamos. E quando fazemos o contrário, ela nos devolve o contrário. Aqui as pessoas equilibram seus instintos com a razão e assim encontram o verdadeiro caminho da felicidade. Sem igrejas, sem dinheiro, sem posses.

Marcelo: Hummm... Muito interessante. Então quer dizer que é impossível ser feliz na Terra? Pois lá coisas como a posse sempre irão existir...
Barman: Não é impossível. Na verdade nem é tão complicado ser feliz. Porém no seu planeta existe o capitalismo, e não se pode simplesmente ignorá-lo. O homem se torna corrupto quando se trata de poder e de dinheiro, e o sistema econômico de vocês nunca vai mudar. O que eu penso é que você pode fazer mudanças em sua própria realidade, sem ter que apelar para o sistema, que é muito burocrático. Então, te aconselho a ajudar o próximo seguindo os mandamentos que estão impressos nos seus genes. Não se meta com a política, mude o que está ao seu alcance e aí você descobrirá a felicidade.

Continua...

Contos Sujos - Diálogo com a Morte - Parte 1


Marcelo Freire tinha 28 anos de idade. Era jovem demais para morrer, mas, infelizmente, já estava quase morto. Estava indo para a faculdade numa noite de segunda-feira quando atravessou uma rua de mão-dupla, com o sinal fechado, e por descuido olhou somente para um dos lados. Era estudante de Direito e tinha se formado em Filosofia, mas trabalhava como carteiro.

Estudava agora para ser advogado e ganhar o dinheiro que não ganhou como filósofo, deixando o emprego de carteiro de lado. Foi atropelado por uma ambulância que estava sem nenhuma emergência no momento, e, portanto não passou com a sirene ligada. É até irônico alguém morrer atropelado por uma ambulância. Marcelo sempre teve medo do trânsito e na maioria das vezes esperava o sinal verde para atravessar a rua.

Mas desta vez estava atrasado para a primeira aula e nem olhou para o semáforo. Ele pensava muito sobre a quantidade de vezes que quase somos atropelados no trânsito, e definitivamente não considerava essa uma forma nobre de se morrer. Concordo com a visão do quase-morto, acredito que o Ministério da Saúde fará no futuro uma campanha contra os atropelamentos no trânsito.

As multas passarão a vir com uma advertência atrás, com mensagens do tipo: “Atravessar causa impotência” e “Dirigir pode causar dependência física e psíquica”.

Foi então que Marcelo se viu numa praia paradisíaca. Estava muito próximo do mar. As ondas quebravam e a água chegava sutilmente até seus pés. O céu estava muito limpo e o sol quase se pondo. Não via ninguém e nada além de água, areia e uma cabana no fundo da paisagem. Resolveu ir até lá pedir informações.

Chegando lá, encontrou um homem alto, vestido de terno preto e com um chapéu inclinado. A cabana tinha garrafas de todos os tipos de bebidas que se pode imaginar, e o homem estava misteriosamente preparando um coquetel em um lugar deserto como aquele. Marcelo interrompeu-o:

Marcelo: Com licença. Onde a gente está?
Barman: Nós não estamos em lugar nenhum. Não existem lugares aqui desse lado.
Marcelo: Como assim? Eu tenho que ir pra faculdade. Me diz como eu chego no Centro da cidade.
Barman: Aqui desse lado não existem cidades. Estamos esperando o barco, tenha paciência.

O Barman serve o coquetel a Marcelo.

Marcelo: Você é um cara muito estranho. Vamo falar com clareza aqui. Eu quero saber agora como eu chego no Centro da cidade. Tô atrasado, pó. Pára de me enrolar e fala logo, por favor.
Barman: Esse lugar não tem saída. Sente-se aí e fique a vontade. A única saída é através do barco.
Marcelo: Como assim não tem saída? Todo lugar tem uma entrada e uma saída, a não ser que a gente esteja numa ilha.
Barman: Nós estamos numa ilha. Se chama ilha do Alem.
Marcelo: Ah, tá. E por acaso eu estou morto?
Barman: Bom... sim.
Marcelo: Eu só posso tá sonhando.

Continua...

terça-feira, 14 de junho de 2011

Música Suja - Johnny Cash - Personal Jesus


Conforme prometido, para dar aquela sujada musical, mais uma versão de Personal Jesus, na voz de um dos mestres: Johnny Cash. Mesmo com um arranjo baseado apenas em voz e violão o peso da música não se perde em nenhum momento. Pegue um livro sujeira, comece a ler e solte o som.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Trilogia “Mazela Social” – Parte 1 – Ônibus 174


Quando soube que haveria uma continuação de “Tropa de Elite”, imbuí-me de um sentimento de reprovação. Achei que a sequência seria uma obra caça-níqueis e, principalmente por ter subestimado a qualidade do primeiro filme, virei as costas para o segundo. Por um tempo, pelo menos. Acontece que um confiável amigo, que compõe esta patota imunda, disse-me, logo depois de assistir ao filme: “É dez vezes melhor que o primeiro.” E é mesmo. Assisti ao filme e, de tão impressionado, saí do cinema com vontade de dar porrada em político.

Aos poucos, fui me interessando cada vez mais pela polêmica levantada pelo diretor José Padilha. Li/vi muitas coisas que disse em entrevistas, inclusive a respeito da relação “Ônibus 174- Tropa de Elite – Tropa de Elite II”. Esta pauta e as próximas três da coluna Cultura Suja tratarão a respeito das obras que compõem a trilogia.


Começamos com “Ônibus 174”, o documentário que narra o fatídico seqüestro de um ônibus na Zona Sul do Rio, em 2000. A riqueza de imagens e depoimentos prende o expectador do início ao fim, considerando a interessantíssima história do protagonista/vilão Sandro do “Nascimento”. “Nascimento?” “Nascimento” de Capitão Roberto Nascimento. Isso mesmo, o diretor deu sobrenomes iguais, pois considera-os “duas faces da mesma moeda”.

De um lado, Sandro, ex-menino de rua, vítima do massacre da Candelária. Uma figura cuja vida recheada de tragédias simboliza de forma poética a classe dos fracos e oprimidos. De outro lado, o temido Capitão Nascimento, líder do BOPE, mecanismo criado pelo sistema para reprimir a bandidagem que domina as favelas cariocas.


No paroxismo do filme, toca-se numa ferida incômoda: a “invisibilidade” dos marginais brasileiros. O que pode se esperar de pessoas que crescem sem educação, muitas vezes sem família, e sem reconhecimento? Isto me remeteu a uma lembrança, até então inexpressiva. Estou caminhando por uma rua erma de Juiz de Fora, no sentido oposto do que, a julgar pelo tipo físico, indumentária e postura, era para mim um bandido.

A andrenalina subiu, as pernas bambearam, mas eu continuei no mesmo sentido. Pensei em desviar, atravessar a rua, porém, pensando de novo, prossegui. O jovem me abordou: “Aí, mermão, tem um trocado pra eu tomar um café?” “Pô, cara, num tenho, to só com a passagem”, menti, descaradamente. “Tá beleza, broder, tu atendeu, prestou atenção, valeu.” Se eu tivesse atravessado a rua, o que teria ele feito?

Arthur Viggi

Imagem aqui - De olho na bunda


Conferindo o material. Vai dizer o quê? Que escapou? Essa não tem desculpa.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Contos Sujos - Flávia Dupont - Parte 3


Se você não está acompanhando este conto, leia as duas primeiras partes logo aqui em baixo. Se está, manda bala na última!

Comprou passagem só de ida para meus sonhos. Nas raras vezes que a via pela universidade, meu coração batia forte, minhas pernas tremiam. Até que seis meses depois tive, inesperadamente, meu primeiro contato com Flávia. Eu costumava ficar na porta da universidade pedindo caronas para voltar para casa.

O dia estava com uma bela tarde ensolarada, passarinhos cantavam nos bosques da universidade. Estava eu com meu dedo apontado para o lado, encarando todos os motoristas que passavam com uma expressão de leve tristeza, às vezes necessária, eu acredito, para que oferecessem carona. Foi então que Flávia apareceu, num Ford K preto. Ela estava simplesmente linda dirigindo aquele carro.

Transmitia uma imagem de mulher segura, resolvida. Ela se aproximou do portão, parou o carro e acenou para mim. Ah! Que felicidade! Pena que aquele momento foi abstrato demais para ser fotografado. Eu entrei no carro, quase não acreditando que aquilo estava acontecendo. Eu sorri para ela, e começamos a conversar.

“Obrigado pela carona”, eu disse.
“Ei, vamos lá. Como você se chama?”
“Meu nome é Roberto. E o seu?”

Eu não sabia seu nome até então. Fui descobrir seu sobrenome dias depois, pesquisando na internet a lista de aprovados no vestibular do ano em que ela o prestou. Mas, continuando...

“Flávia. Você faz o quê aqui?”
“Letras. E você?”
“Estatística. Estudamos coisas bem diferentes, an?”
“(Risos) Pois é. Eu lembro de você passando perto da minha faculdade...”

Fomos conversando durante toda a viagem. Ela era, além de bela, muito culta. Conversamos sobre livros. Pela primeira vez a coisa parecia sair do platonismo e tomar uma dimensão real. Ela estava ali, ao meu lado, conversando comigo. Falávamos um pouco sobre nossas vidas de estudante, sobre perspectivas para o futuro. Foram os quinze minutos mais esperançosos de minha vida. É uma pena que eles passaram tão rápido, e eu não pensei numa desculpa para seguir viagem com ela. Ela perguntou:

“Onde você desce? Daqui eu vou pra esquerda.”

Estávamos num trevo. Eu costumava descer por ali, pois minha casa era para a direita. Mas por que eu não menti? Seria tão fácil. Respondi, ingenuamente:

“Eu fico aqui mesmo.”

Pronto, o sonho acabou. Nós nos despedimos, eu desci do carro e nunca mais a vi. Aposto que você, leitor, estava esperando um final bem melhor do que este. Mas essa é a verdade. Você pode me criticar por não ter conversado com Carla Soares ao invés de achar que ela ia se assustar, ou por não ter tomado uma atitude mais relevante quando tive a oportunidade de conversar com Flávia Dupont.

Talvez se eu tivesse escolhido ir para a esquerda poderia prolongar a conversa até conseguir um telefone, ou intimidade suficiente até para convidá-la para um evento qualquer, uma peça de teatro, uma sessão de cinema, uma coca-cola na padaria. Mas o mundo não gira em torno do “talvez”.

Talvez você deva aprender com meus erros e se tornar frio e calculista. Não se apaixone por ninguém, não se case, não veja comédias românticas e não leia livros do Romantismo. E não vou dizer meu nome completo, pois não quero que fãs inconvenientes me mandem cartas e e-mails fazendo piadas e declarações de amizade. Estou tentando esquecer Flávia Dupont através desse desabafo. Oh! Como ela era linda...

Notas do Narrador Onisciente

Então Roberto começou a chorar sobre a mesa. O Romantismo permanecia dentro dele, apesar de ele renegá-lo. Terminou seu desabafo com a frase: “Seguindo a lei do mais forte, naturalmente eu perdi a disputa.”

Arthur Viggi

Contos Sujos - Flávia Dupont - Parte 2


Se você não está acompanhando este conto, a primeira parte está logo aqui em baixo. Se está, manda bala na segunda!

Comecei a estudar seus hábitos e percebi que ela sempre passava pela rua por volta mais ou menos de meio-dia. Então comecei a passar pela rua a esta mesma hora. Nos cruzamos algumas vezes, e em uma delas eu me senti altamente sedutor, levando em conta o sorriso que ela dirigiu a mim. Mas o contentamento não durou muito. Ouvi ela falando com alguém, me virei de costas e pude avistar seu namoradinho engomado.

Tenho que admitir que ele era bonito e tinha mais cabelo do que eu. Mas por que o maldito foi aparecer para atrapalhar a minha vida? Tudo fazia parte do plano, talvez. Eu iria ter que esperar somente mais alguns dias até que a linha torta do destino fosse corrigida e ela caísse nos meus braços. Mas isso jamais aconteceu. Depois disso rasguei tanto o livro do Machado de Assis quanto o do Paulo Coelho.

Logo depois conheci a terceira garota. Era Renata Sobrado. Linda, olhos castanhos, cabelos cacheados, sorriso encantador e corpo curvilíneo. Essa foi a primeira garota pela qual eu me apaixonei dentro da faculdade. Oh! Como a faculdade pode ser um lugar tão rico de mulheres lindas que não te dão a mínima! Renata era sublime, delicada, tinha um ar de seriedade que conquistava até os professores. A propósito, eu não a conheci. Mas quem precisa conhecer quando se está apaixonado?

Eu sou estudante de Letras e ela, de História. Fizemos uma disciplina juntos - eu me matriculei na disciplina apenas para ter o prazer de vê-la todas as terças-feiras - e foi uma verdadeira tragédia. Você deve até achar engraçado eu não ter a conhecido, mas eu posso me defender contra qualquer crítica. Apesar de estarmos na mesma sala, eu nunca consegui uma situação apropriada para abordá-la. Quando eu chegava antes dela, ela nunca se sentava perto de mim. Quando eu chegava depois, todos os lugares em volta dela já estavam ocupados. E mais: ela tinha um amigo gay, insuportável, não pelo fato de ser gay, mas pelo fato de ficar o tempo todo colado nela.

E como falava, o sujeito. Certa vez consegui me sentar atrás dela. Fiquei tão feliz! Até mexi em seu cabelo sem que ninguém percebesse. Depois aproximei meu rosto para tentar sentir o cheiro de seu perfume. Sublime! Nunca imaginei que alguém pudesse ser tão sexy, mesmo falando sobre Adam Smith. Renata falava sobre "A Riqueza das Nações" naquele seminário, enquanto eu me imaginava deitado com ela na cama com o livro de Smith jogado no chão. Na minha apresentação, fiquei tão nervoso com o fato de Renata estar me observando que gaguejei veementemente no discurso sobre o modo de produção socialista.

Vocês tinham que me ver falando: "Então, o Karl Marx escreveu... escreveu... escreveu...". Bom, a esta altura o ano já estava terminando e não tive nenhuma boa oportunidade de conhecê-la. Droga! As férias chegaram e eu consegui tirá-la da cabeça depois de muitas despesas com revistas masculinas.

A quarta e última garota antes de Flávia Dupont foi Carla Soares. Carla era tão incrível quanto as outras, porém tinha o adicional de ser rica. Não que eu seja interesseiro. Mas é importante deixar claro esta sua característica para mostrar a você, leitor, a dificuldade que é se relacionar com uma mulher de um nível sócio-econômico diferente.

Não estou dizendo que ela fosse interesseira e tampouco que isso seja uma desculpa para eu não ter conquistado-a. Porém, nós pertencíamos a universos totalmente diferentes. Enquanto ela morava num condomínio fechado, numa casa que teria provavelmente uns 40 metros de frente, 3 andares e um jardim com um monumento em homenagem a seu avô, eu morava numa casa que não tinha sequer um interfone.

casa estava no intermédio do Centro com a Periferia, não tinha nenhum monumento e tampouco meu avô foi alguém importante. Ele era descendente de italianos e abriu uma pizzeria que nunca vendeu pizza alguma. Quando eu tinha 7 anos de idade fui descobrir que na verdade não era uma pizzeria, e sim um bar. Paolo, meu avô, era um sujeito esperto, malandro, e teve a infeliz idéia de colocar uma placa na porta do estabelecimento anunciando “Pizzeria do Paolo”. Os casais entravam procurando uma boa refeição e encontravam bêbados e uma mesa de sinuca.

O negócio, é claro, não durou muito tempo. Mas, voltando a Carla, como é que eu chamaria a atenção de uma garota como aquela, linda, maquiada, produzida e com tudo o que você quer conquistar, mas que já nem passa mais pela sua cabeça de tão utópico que se tornou? Eu era só um estudante de Letras que sonhava em ter uma casa própria e um carro que conseguisse sair da garagem. Carla era uma estudante de Medicina que tinha tudo o que eu nunca vou sonhar.

E ainda por cima era estudante de Medicina! Combinou seu poder econômico a sua inteligência para ganhar mais dinheiro do que já tem, enquanto eu estudo para no máximo ser um professor de inglês que vai dar a ela aulas particulares, e depois ser trocado por outro devido ao fato de ela não ter gostado da minha dicção. Oh! Mas não vamos continuar relativizando tudo, não é mesmo, leitor? Aposto que você se identificou comigo e torce para que eu lhe conte que pelo menos quase consegui conquistar Carla Soares. Mas foi impossível, mais impossível do que conquistar Renata Sobrado. Eu até tentei fazer Anatomia só para poder falar que, no mínimo, já fui da mesma sala que Carla.

Porém, quando fui até o departamento de Medicina pedir uma vaga eles não aceitaram meu pré-texto. Eu disse que queria fazer a matéria pelo fato de estar trabalhando em um projeto de monografia que discorreria a respeito da relação entre a postura de Carlos Drummond de Andrade em sua cadeira e o sucesso de suas obras. Fui ridicularizado no departamento, e saí de lá desiludido. Eu costuma ver Carla apenas uma vez por semana, quando ela esperava seu carro com motorista particular. Uma vez até pensei em abordá-la, puxar assunto e ver se ela iria corresponder. Estava sozinha na calçada, esperando, com uma expressão amena.

Até parecia, por um momento, que ela fosse uma garota normal, no sentido de não ter um carro com motorista particular. Mas hesitei em me aproximar temendo que ela entendesse aquilo como um assalto. Assim termina minha história com Carla Soares. Ela, que provavelmente nem sabe da minha existência, e eu, que fui platonicamente apaixonado por ela até conhecer Flávia Dupont.

Flávia estudava Estatística. O departamento de seu curso se localizava próximo ao meu, sendo que os dois eram conectados por algumas escadas e morros. Eu a vi duas vezes passando pelo departamento de Letras, e nossa, como ela brilhava! Sem que eu percebesse, seu rosto se alojou em minha memória.

Continua...

domingo, 5 de junho de 2011

Contos Sujos - Flávia Dupont - Parte 1



Flávia Dupont
Notas do Narrador-Personagem


Flávia Dupont era linda. Ruiva, cabelos lisos, curtos e caindo nos olhos, com um rosto fino e encantador. Tinha um corpo magro, porém marcante. Não era seca como uma modelo, nem exageradamente torneada como uma dançarina de funk. E eu, tão inocente, fui me apaixonar por ela. Como um sujeito absolutamente comum como eu poderia ter alguma chance com uma mulher dessas? É o tipo que ilumina o ambiente, inspiradora, encantadora. Ah! Meu maior defeito é ser tão sensível e romântico. Apaixonei-me por tantas mulheres na vida que você não iria acreditar se eu entrasse em detalhes.

Quando eu tinha 10 anos de idade me tive uma queda pela Christiane Torloni. Todas as noites ligava a TV pouco antes da novela, esfregava as mãos e as encostava na tela do aparelho com a esperança de ser sugado pra dentro da novela. Não me lembro porque diabos fazia isso, mas enfim, é a verdade. Sempre fui um cara platônico, somente agora estou abandonando o Romantismo para cair na realidade cruel. A única vez em que consegui conquistar uma mulher pela qual eu tinha me apaixonado foi há 4 anos atrás.

Não sei se você consideraria esse um caso legítimo de conquista, pois a mulher era na verdade uma dançarina de um clube noturno e, nas horas vagas, atuava como prostituta para complementar seu cachê. Sim! Eu paguei-a para ficar comigo. Mas quem é você, leitor, para dizer que isto não é legítimo? Você não consegue enxergar que o mundo é movido por interesses? A arte da sedução está corrompida, não existe jogo limpo. Tudo bem que Paula Bonaventura riu da minha cara depois que eu abri o jogo e me declarei para ela.

E ainda me devolveu um comentário humilhante. Ela disse: “Você não me pagou o suficiente para que eu me case com você, meu bem”. Depois de vários encontros, quando minha poupança já estava zerada, ela teve a coragem de me dizer tal ofensa. Voltei para casa aos prantos, prometendo nunca mais me apaixonar. Mas foi em vão. Apaixonaria-me ainda mais quatro vezes, antes de ter a visão ofuscada pelo brilho de Flávia Dupont.

A primeira delas foi Suzanna Reis, com seus 1,80 metros de altura, olhos claros, cabelos louros e lisos, uma boca incrivelmente carnuda e um corpo esculpido por um arquiteto que provavelmente tinha pós-doutorado. Eu a conheci no terceiro ano, em uma sala que tinha 20 homens igualmente fissurados pela garota. Ela era do tipo que arrancava suspiros poéticos em todos os lugares que passava. Digo suspiros, mas se trata de um eufemismo, obviamente.

Em todos os corredores podia-se ouvir comentários vulgares e maldosos a respeito dela, tais como "Suzanna é muito gostosa" ou "Que rabo!". Ela costumava se sentar numa das primeiras carteiras, enquanto eu me sentava mais ao fundo, perto de amigos a quem todos consideravam uns babacas. Acredito que eu não era tão criticado quanto meus amigos, pois tinha contato com vários outros colegas que não eram do meu grupo.

Tudo bem que a maior parte dos contatos era feita quando algum deles precisava de alguma coisa, mas não precisamos considerar isso, certo? Bem, mas o fato é que a garota estava lá, linda, e eu me apaixonei por ela. Ela me lembrava a Sharon Stone no filme "Instinto Selvagem", principalmente quando vinha para a aula de saia. Eu tinha arrepios quando me lembrava da cena em que Sharon cruzava as pernas, sem calcinha, e em seguida imaginava Suzanna fazendo a mesma coisa, o que me dava arrepios em dobro. Você já teve aquela sensação de que vai se dar muito bem com uma garota antes mesmo de tê-la conhecido? Eu senti isso muitas vezes na minha vida, e em todas elas acabei dando mal.

De agora em diante não acontecerá mais, eu posso lhe assegurar. Mas, enfim, Suzanna gostava de conversar com suas amigas na hora do intervalo, no corredor da escola. Uma vez eu consegui encontrá-la sozinha, mas não sabia como lhe chamar a atenção. Então tive a péssima idéia de cair no chão propositalmente, na vã esperança de que ela me ajudaria a levantar. Ao invés disso, ela olhou para mim com uma expressão absolutamente indiferente, e entrou na sala. Mas tenho certeza de que ela tentou se comunicar comigo através de expressões faciais. Captei uma mensagem mais ou menos assim: "Você é um babaca".

Oh, meu Deus! Como mudamos em tão pouco tempo. Hoje em dia nunca agiria de forma tão palerma por causa de uma mulher. Com o passar dos anos, vamos nos desiludindo cada vez mais. Acho que quando eu tiver 50 anos, provavelmente não estarei casado. Provavelmente nunca vou deixar de ser solteiro. Vou atingir os 50 anos frequentando bares de quinta categoria, conversando sobre pessoas que passam na rua ou sobre jogos de sinuca.

Vivendo de aposentadoria e tomando pinga todos os dias, vou ter bastante tempo para não desperdiçar com as mulheres. E o melhor de tudo é que, quando eu tiver essa idade, todas as mulheres que me ignoraram vão estar feias e acabadas, com rugas, filhos e seios caídos.

Prosseguindo, a segunda garota foi Fátima Cardoso. Linda, olhos escuros, cabelos castanhos e cuidadosamente alisados, pernas bem torneadas. Admiro seus pais pela qualidade do produto final. Fátima carregava consigo um ar de adolescente de bons costumes. Parecia ter saído de um livro do Romantismo, bem do jeitinho que eu gostava. Eu li "Helena", do Machado de Assis, na época em que a via passando na rua em que eu morava.

Inocentemente, associei esse livro a um outro livro do Paulo Coelho. O resultado foi que eu achei fazer parte do meu destino conquistar aquela garota e passar com ela o resto da minha vida. A garota tinha se mudado recentemente para a minha rua e eu podia a ver passando pela janela do meu quarto. Mais uma vez, era uma mulher que não passava despercebida em lugar nenhum. Certa vez ela passou pela rua quando um menino de uns 13 anos de idade descia de bicicleta. A rua se tratava de uma pequena elevação com curvas.

Bem, o que acabou acontecendo foi que menino cruzou com Fátima e fixou os olhos nela por um tempo. Esse intervalo de tempo foi suficiente para que ele subisse com a bicicleta na calçada e depois descesse um escadão com 80 degraus. Ainda assim, acredito que permaneceu com os olhos fixos em Fátima.

continua...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Cultura Suja -50 Anos a Mil


Muito se pode dizer a respeito de Lobão: um artista sardônico, assoberbado, versátil.Suas declarações polêmicas são arquitetadas com tamanha riqueza de detalhes e inteligência, que às vezes se tornam mais famosas do que sua obra.

Peguei o livro “50 Anos a Mil”, autobiografia do cantor com recheio de reportagens diversas, ávido por uma leitura que eu imaginava ser surpreendente. No final me surpreendi, realmente.

O livro não parece um relato biográfico, mas sim ficcional. São inumeráveis as loucuras da vida de João Luís Woerdenberg Filho, carioca de Ipanema, vítima da nefrose na infância e da epilepsia na vida adulta. “Sou um sobrevivente nato”, já disse Lobão numa entrevista antiga à Revista Playboy. E não mente: depois de passar por várias doenças raras, tentativas de suicídio, acidentes, é de se admirar que ele esteja vivo e saudável até hoje.

Filho de uma família de classe média, o cantor teve uma conturbada estrutura familiar. A mãe era bipolar e suicida em potencial, o pai era repressor. Tanto que, na cena em que deixa sua casa, Lobão coloca o pau na mesa: seu pai rola escada abaixo, ensangüentado, após receber várias violãozadas na cabeça, concedidas pelo filho de alento incipiente.

Em seguida, Joãoluizinho (epíteto carinhoso dado pela família) entra para o Vímana, banda de rock progressivo com Lulu Santos, passa rapidamente pelo Blitz e desemboca numa carreira solo regada à hits e drogas. O livro conta, inclusive, o antológico episódio em que o cantor foi condenado à prisão por um juiz que, segundo o narrador, era traficante e deu ordens para uma transação de maconha para dentro do país, durante o julgamento.

Passados três meses na prisão, o artista é posto em liberdade, no auge de sua carreira. É notável neste momento da narrativa seu relato a respeito da perseguição que sofreu a partir da mídia. Foi tachado de marginal e, revoltado, resolveu se passar como tal e morar com traficantes na favela. Nos anos 90 caiu no ostracismo, sendo rechaçado pelas gravadoras, o que impeliu-o a se reinventar como artista independente, situação que delongou-se até o lançamento de seu Acústico MTV.

O livro é composto por mais de 500 páginas, em prosa erudita e prazerosa. “50 Anos a Mil” é o retrato de uma geração, proferido por um artista que se localiza no interstício entre o histrionismo e o respaldo cultural, algumas vezes estando nos dois lugares ao mesmo tempo. O livro é uma leitura compulsiva (devorei-o no Carnaval, sem ter recursos pra viajar). Vide a posição que tem ocupado nos rankings de Best-sellers nacionais.

Arthur Viggi

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Culto e Grosso - A Dimensão do Tempo



Já parou para pensar em quanto dura o tempo? A sensação de que o tempo é diferente em cada uma das diferentes situações da vida é estranha e intrigante. O tempo parece duro quando algo que você não gosta está em desenvolvimento. Marque 30 minutos jogando futebol com os amigos. Agora tente viver os mesmos trinta minutos tão intensamente em um trânsito caótico de uma grande cidade.

A movimentação do tempo dentro do espaço parece ser algo vivo. E aqui que podemos formular uma teoria de que o tempo existe por que nós existimos. Se você resolvesse ignorar o seu relógio, talvez todos os momentos da vida teríam a mesma duração. Ou talvez não. Qual ser humano não mantém sua vida ligada à uma timeline que tem fatos, pessoas e lugares envolvidos.


É difícil pensar em uma estruturação de sociedade sem este tipo coordenação. Mas pense o quanto seria interessante saber que não há hora para ir embora de um encontro. Não faltam cinco minutos para o seu compromisso. Você não tem que acordar às sete.

Pense ainda na possibilidade de guiarmos nosso senso única e exclusivamente pela noção dia e noite. Teríamos quase que dois dias em apenas um, segmentados. Claro, esta teoria pode ser absurda. Mas nas grandes cidades, cada vez mais as pessoas tem menos tempo para viver. E é estranho que elas ainda sim compactuem com isso e achem completamente normal.

Uma pessoa do interior que quer viver essa realidade precisa reescalonar sua timeline. Pois do contrário sua dimensão de espaço e tempo se perde. E a menos que você esteja disposto a conviver com isso, terá muitos problemas.

Bianco Vagabundo

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