domingo, 13 de junho de 2010

Cinema Livre - Amor Sem Escalas: um dos melhores filme de 2009


Em 2006 ele dirigiu Obrigado por Fumar, uma ácida análise sobre as corporações de tabaco norte-americanas. Em 2007 ele dirigiu o excelente Juno, sucesso de público e crítica que tratava do complexo universo adolescente e da famigerada gravidez antes da hora. Recentemente, em 2009, ele dirigiu o espetacular e originalíssimo Amor Sem Escalas, indicado a 6 prêmios do Oscar (melhor filme, diretor, roteiro, ator para George Clooney e atriz coadjuvante para Vera Farmiga
e Anna Kendrick).


Eu estou falando de Jason Reitman, um jovem diretor canadense que vem se firmando no novo cenário do cinema e cada vez que ele se propõe a filmar algo já é sinal de coisa boa vindo no ar.
Neste Amor Sem Escalas (o título original é “Up in the Air”, algo como “no ar” ou “nas alturas”), George Clooney é Ryan Bingham, um homem frio que adora o seu trabalho. Ele é funcionário de uma empresa que é contrada por outras empresas ou corporações para demitir pessoas. E é isso que Ryan faz, viaja de avião por todo lado e diz na cara de alguns honestos trabalhadores americanos que seus serviços não são mais necessários. Seria cômico, se não fosse trágico.


É quando então as coisas começam a mudar e duas mulheres entram na vida de Ryan. A primeira é Alex (Vera Farmiga), uma versão de saias do próprio Ryan, que como ele passa mais tempo viajando do que em casa. Haverá ali um interesse mútuo, mesmo que sem comprometimento. (atenção para o travelling que segue de costas e nua a maravilhosa Farmiga em uma cena sensual – é algo simplesmente impressionante!). A segunda é Natalie Keener (Anna Kendrick), uma arrogante nova funcionária da empresa em que Ryan trabalha. Ela desenvolveu um sistema de videoconferência onde as pessoas poderão ser demitidas sem que seja necessário deixar o escritório. Este sistema, caso seja implementado, põe em risco o emprego de Ryan. Ele passa então a tentar convencê-la do erro que é sua implementação, viajando com Anna para mostrar a realidade de seu trabalho.

A partir dessa premissa original (que dialoga com a atual situação econômica americana – nada melhor que uma crise dessas para que Ryan viaje muito, junte milhas e demita bastante pessoas), o diretor Jason Reitman consegue estabelecer uma excelente dinâmica entre os personagens e demonstra estilo com sua câmera em momentos quando por exemplo realiza planos detalhes com cortes rápidos, ao demonstrar a atitude metódica de Ryan ao arrumar as malas. O roteiro, também de Reitman, equilibra bem algumas boas piadas com os momentos dramáticos. E é exatamente nestes momentos, que o filme se revela muito mais do que parece ser.



O título brasileiro engana, o romance passa um pouco longe dessa magnífica comédia dramática. Amor Sem Escalas é profundo, é filosófico, é reflexivo e é pesado. Digo isso não pelo fato do filme ser violento ou conter cenas ardentes de sexo, mas diante das temáticas que ele decide abordar e dos rumos que a história e o destino dos personagens tomam não há como negar a alta densidade da película. Amor Sem Escalas é daqueles filmes que quando terminam, te fazem parar e pensar na sua própria vida e na vida das pessoas ao eu redor. E quando um filme consegue fazer isso, quando ele consegue se estender para além daquelas duas horas em que você ficou dentro da sala de cinema, você pode dizer que esteve diante de um filme diferenciado. Uma mensagem foi passada. Uma bela mensagem por sinal.

Amor Sem Escalas é acima de tudo um filme sobre pessoas, sobre as relações entre elas, sobre o que é felicidade para cada um de nós e como lidamos com ela.
Jason Reitman deu o pontapé inicial para que você pense exatamente se você está guiando a sua vida para o lado certo.
Basta apenas que você compre sua passagem e embarque nesta viagem.

* Amor Sem Escalas já está disponível para locação em DVD e Blu-Ray.
Amor Sem Escalas(Up in the Air, 2009) – de Jason Reitman
assista ao trailer: http://www.youtube.com/watch?v=e7k6FwXJhNk

Gabriel Fonseca

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Cultura Suja - O "Plonk" do Punk

O punk foi um movimento social, musical e cultural originado nos Estados Unidos em meados dos anos 70. Sendo artisticamente representado por bandas como Stooges, Ramones e New York Dolls, os adeptos dessa nova corrente pregavam a rebeldia estética e comportamental, o niilismo, a anarquia, a despreocupação, o sarcasmo. Foi uma reação da classe trabalhadora contra a “paz e amor” dos hippies, ao mesmo tempo em que incorporava o estilo de vida simples com uma grande marca de pessimismo.


Logo este movimento se expandiu também por toda a Europa, deixando rastros principalmente na Inglaterra, onde surgiram duas grandes bandas chamadas “Sex Pistols” e “The Clash”. Músicas minimalistas, com mais ou menos três acordes, compuseram o repertório de todas essas bandas. Os discos “Never Mind The Bollocks, Here`s the Sex Pistols” e “London Calling” devem ser ouvidos e re-ouvidos para que se entenda a ruptura feita com o rock progressivo e incrementado da época.



Depois da década de 70 o punk rock deu origem a várias vertentes, algumas delas são claramente distorcidas e nada tem a ver com o movimento original. O “Hardcore” surgiu com ainda mais agressividade e rapidez. O “New Wave” surgiu com arranjos diversificados, incluindo teclados e sintetizadores. Tem também o controverso “Pop Punk”, vertente surgida na década de 90, muito comercial e pouco criativa. Paradoxalmente, a música que nos anos 70 era feita por grupos suburbanos passou a ser feita por músicos de classe média que falavam de temas adolescentes.


Chamar “Green Day” de música tudo bem, mas falar que isso é punk rock é uma grande ofensa. Os caras fazem baladas aceleradas, com um som limpo e engomadinho, falam de amor de novela, e por isso não merecem essa etiqueta. Essa é a melhor palavra que se pode usar. São produtos da mídia, puro fetichismo de mercadoria. E isso vale para todas as bandas parecidas que tem surgido por aí. Já disse o próprio Johnny Rotten (Lydon): “Green Day não é punk, é plonk (gíria inglesa para mercadoria)”. Agora se quer ter um bom entretenimento ouça a música dos anos 70 do The Clash, que alternou peso com leveza, adicionou boas pitadas de reggae sem ter que seguir aquele padrão de música que emplaca em "Malhação". Ou então se acha tudo uma merda e quer ouvir sua insatisfação convertida em música aconselho ouvir "Sex Pistols" em alto e bom som.

Clipe de "Rock The Casbah", grande sucesso do The Clash

*Todos os direitos são do artista e Ossujos não ganham nada com a reprodução das obras
Arthur Viggi


sábado, 5 de junho de 2010

Cultura Suja - Prazer em ser Incult(o)

Já reparou como muita gente que já leu Paulo Coelho hoje em dia não lê mais? “Descobri que tem coisa muito melhor”, “Paulo Coelho é pra quem tá começando a ler”... Essas são típicas frases de um futuro intelectual que rejeita os livros do Mago. Nada mais Cult do que meter o pau em um cara que foi Cult a vida inteira. Afinal de contas, “ele é um babaca que pratica arco e flecha e mora numa mansão na França”.

Pra começar, o cara foi internado num hospício três vezes durante a adolescência. Entrou pro movimento hippie nos anos 70, fazendo música junto com Raul Seixas e embarcando fundo no mundo das drogas. Foi seguidor de Allister Crowley e da “Sociedade Alternativa”, sendo que seu fascínio pelo ocultismo foi tal que gerou um livro chamado “O Manual Prático do Vampirismo”, publicado em 1985, que Paulo mandou recolher por não ter gostado nem um pouco do que escreveu. Ah, e é claro, pra não ficar nenhuma lacuna Cult, ele teve relações homossexuais para depois descobrir que não era gay.


Mas se falam tão mal dele, como o cara vendeu tantos livros? Ele não pode revelar um grande talento pelo menos na forma de escrever suas histórias? Podem falar tudo de ruim a seu respeito, mas Paulo Coelho soube partir o seu pedaço do bolo. E não importa se esse bolo é a mistura de elementos pagãos e cristãos, se é um bolo que já foi digerido por outra pessoa e recolocado à mesa. “O Alquimista” já vendeu 65 milhões de cópias no mundo inteiro, é recomendado em universidades e escolas dos mais diversos países (curiosamente, o Brasil não é um deles). Até a Madonna gosta dos livros do sujeito.


Tem que se tomar cuidado pra não ser infectado pelo vírus do anti-modismo e da falsa personalidade. Não é porque um produto esteja na moda que ele vai deixar de estar à altura de seu intelecto. Você não precisa se fechar no quarto e botar discos de música clássica pra tocar na sua vitrola, amaldiçoando seus contemporâneos que curtem o “Rebolation”. Se você se diz Cult o suficiente pra não gostar de Paulo Coelho, eu digo que sou mais Cult que você, pois vou ler o livro despretensiosamente, sem o compromisso de ser diferente. E já que falar mal do Paulo Coelho é ser Cult, você não é mais Cult, pois isso já virou modismo. Agora, eu que não critico e nem me preocupo com isso, virei Cult. Bem-feito!

Arthur Viggi


quinta-feira, 3 de junho de 2010

Conto Sujos - Jogando Tudo - Parte 3


Se você mão está acompanhando este conto, a primeiras partes estão logo aqui em baixo. Se está, manda bala na última!

O homem gargalhou enquanto tragava seu cigarro. No mesmo momento, a sorte de Tommy parecia ter mudado. Ou melhor, ele havia resolvido que começaria a jogar. Percebeu que tinha conseguido desviar a atenção de todos o suficiente para que não percebessem em que furada estavam entrando.

Os dois valetes da mão, se juntaram a um terceiro na mesa. Bingo. Pouco a pouco Tommy foi recuperando seu cacife. Em pouco mais de uma hora ele já havia somado o dobro do que tinha. O homem que havia o ironizado agora, estava quase sem nada. Acendia um cigarro atrás do outro. Tensão. Dois valetes na mesa. O jogo alto. Mais fumaça. Apenas Tommy e o sujeito permaneciam. Tommy com a banca. O sujeito jogando alto. Jogando tudo:

-seu filho da puta, eu quero toda a sua grana!
-claro, mostre seu jogo...

O homem não estava blefando. Tinha uma dupla de Ases na mão. Tommy vacilou:

-merda

O homem passou a mão no dinheiro. Tommy deixou suas duas cartas caírem. Um terceiro valete completava a trinca. O homem ficou furioso:

-seu filho da puta, eu te mato!

Antes que o homem encostasse Tommy soltou o braço. O soco explodiu na cara do sujeito, que alcoolizado tombou para trás. Asoutras mesas pararam observando a cena. Tommy, pegou o cacife, olhou para todos e respondeu:

-alguém conhece o pai desse sujeito?

Enquanto todos o olhavam sem entender, Tommy trocou seu cacife, e foi beber do outro lado do cassino. Tinha pelo menos o triplo no bolso agora.

Conto Sujos - Jogando Tudo - Parte 2


Se você não está acompanhando este conto, a primeira parte está logo aqui em baixo. Se está, manda bala na próxima:

Lá dentro deu de cara com luxo e esbanjação que nunca tinha tido na vida. O neon iluminava cada canto. Mulheres atendendo clientes apareciam de todos os lugares com taças e garrafas de espumante. Havia muito dinheiro ali. No fundo do salão principal, dois seguranças guardavam uma porta pequena e discreta.

Tommy nunca havia estado ali, mas não deve a menor dúvida de que era aquele lugar que estava procurando. Caminhou rapidamente entre as máquinas. Quando chegou de frente ao portal, foi interceptado pelas mãos dos seguranças. Os dois olharam para a face do rapaz duramente. A pergunta veio logo depois:

-o que você quer aqui garoto?
-quero jogar com os grandes...
-você não tem o que é preciso – o segurança analisou de cima em baixo Tommy
-é claro que tenho...

Tommy abriu a jaqueta levemente. De dentro, tirou um pacote recheado de notas. Ali, ele tinha pelo menos cinco milhas. Os seguranças trocaram olhares surpresos. Tommy colocou o embrulho novamente dentro da jaqueta e disse:

-agora abram essa porta e saíam da minha frente. Ou se preferirem, posso conversar com o dono disso aqui sobre a forma como estou sendo atendido...

Os dois abriram rapidamente a porta. Quando Tommy passou pelo portal, viu um outro grande salão. Uma nuvem de fumaça de cigarro tomava conta do ambiente. Várias mesas estavam formadas. Em cada mesa, maços de dinheiro eram apostados. Tommy se dirigiu a banca e trocou seu cacife. O crupier lhe entregou uma ficha. Uma nova mesa estava sendo formada. A número 37. Ele era o último a se sentar.

Caminhou em busca de seu assento. Os outros três já o aguardavam. Dois homens, em torno de 35 anos, e um mais velho, aparentando pelo menos uns 50 estavam sentados. Um crupier se aproximou e distribuiu as cartas. Ele foi curto:

-não se metam a engraçadinhos. Espertos aqui, voltam para casa sem nada

A primeira rodada foi péssima. Nada de jogo. A segunda idem. Pouco a pouco Tommy foi perdendo seu cacife. Havia confiado demais, pensara. Enquanto cada um enchia o bolso com sua grana, ia analisando cada jogador.

A noite ia caminhando. Depois de duas horas jogando, um dos jogadores da mesa o ironizou:

-é garoto, acho que você não vai ter dinheiro nem para voltar para casa. Vai ter que chamar o papai.

Tommy respondeu:

-é, realmente não sou bom nisso, e além de tudo nem sei jogar isso muito bem. Vim por que me disseram que eu poderia encontrar belas mulheres...

continua...

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Conto Sujos - Jogando Tudo - Parte 1


O frio tomara a noite de Big City. Muito frio, e junto um cinza havia dominado a cidade dando um aspecto melancólico, ao que diariamente era naturalemte frio e desanimador. Era véspera de mais um descanso na cidade. Cada canto, cada mesa de bar e cada espaço era ocupado por alguma mesa de jogo.

O dinheiro fluía de um lado para outro com apostas e mais apostas. Era preciso ter pulso forte para conseguir parar e não terminar a noite com o bolso completamente limpo. Tommy decidiu dar um pulo no Royal, um dos principais cassinos de Big City.

Do lado de fora do lugar ficavam as mesas de aposta, Black Jack, roletas e caça-níqueis. Porém, o que poucos sabiam, era que na parte de trás rolavam as “big tables”. Ali, o poker rolava com apostas que batiam alguns milhares de dólares.

A entrada era cobrada a vista. R$ 1000,00 dólares só para sentar e jogar, fora o cacife de entrada na mesa. Tommy pegou seu Pontiac 67 e rumou para a área norte da cidade. O som do carro chamava a atenção. Não por ser um possante.

A impressão que se tinha era que aquela porcaria de carro ia se desfazer a qualquer momento. Quanto estacionou na porta do cassino, o guardador foi irônico:

-quer que eu jogue isso fora?

Tommy sacou as chaves e entregou ao sujeito. Deu um tranco com o ombro e passou em direção a porta do cassino.

continua...

terça-feira, 1 de junho de 2010

Música Suja - Deu branco no samba!



O aburguesamento do samba assim como várias outras expressões de cooptação e CU...ltificação da música de raiz é papo batido. Entretanto, façamos uma pequena reflexão sobre o aspecto pedante, vazio e mulherofóbico ou mulherofáltico imanente ao neomalandrismo carioca e, também, periférico.

Como toda relação social pautada por uma dogmática, no neomalandrismo sambístico, a citação dos “profetas” do meio é constante e absolutamente passível de aquiescência e louvor; exemplo:

Indivíduo X: - Essa música é do Noel Rosa, genial !

Amigos do indivíduo X: - Genial, Noel é gênio mesmo, poeta, nobreza do samba!

Pronto! Como o fanatismo religioso, este tipo de discurso pré-fabricado permeia o diálogo neomalandro e morre na superficialidade da moda, sem maiores apreciações ou um mergulho verdadeiro na alma do samba.

Reificado, pois, o samba (de raiz, porque o resto é um lixo, conforme a “malandragem”) em sua essência, geografia, morenidade, molejo e mulatidão subsume-se à lógica de um modernismo anacrônico e ufanista, absolutamente fake e superficial.

É como se o rebolado brasileiro fosse vertebrado por uma cintura metálica, cibernética, descartável, simulada e, por que não, dissimulada.


Seria tamanha ingenuidade nossa, porém, uma interpretação estanque da cultura. Deu branco no samba! E branco “do bão”, convenhamos!O grupo Casuarina, Diogo Nogueira, dentre outros, enriquecem,deveras, nossa música.

E há muita gente na lapa que manja de samba, há muito frequentador das rodas que sabe o que faz por lá, rola um feedback sincero e tudo mais. O risível,todavia, é o fenômeno neomalandrista.

Esse monte de bamba leite com pêra, com seu molejo de condomínio e conhecimento rítmico via Wikipedia, que invade a cena de classe média com seu ethos soberbamente vadio.

O coração leviano – coitado do Paulinho – a alma de plástico e a estética combinada agarrou desta vez no samba. Saibam, caríssimos, identificar os focos de neomalandragem para que possam desvencilhar dessa patota chata e artificial. Afinal, malandro é malandro e mané é sempre mané, não adianta!

Carlos Carvalho

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