segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Culto e Grosso - Amigo Oculto




Amigo oculto. Todo ano é a mesma coisa. A mesma chateação. Não que dar algo não seja algo empolgante de se fazer. Mas é ainda melhor quando você gosta da pessoa. O crédito a fabulosa brincadeira é incerto. É dado aos povos nórdigos, porém, também faz parte do costume dos pagãos.

O sorteio ficou popular a partir de 1929, em plena crise e depressão, onde não havia dinheiro para dar presentes para todo mundo. Desde então, firmou-se como um evento tradicionalde fim de ano, principalmente em ambientes onde reina a "coletividade".

Mas são tantos os compromissos sociais a que estamos submetidos que se você disser que "não quer participar" parece até um atentado contra a moral alheia. Das duas uma: ou você não gosta de ninguém, ou é um babaca.

O pior é que a brincadeira ocorre sempre em locais que já são naturalmente hostis, como por exemplo, o ambiente de trabalho. Este, considero como sendo o amigo mais complicado pois há laços ali que vão muito além do compromisso firmado na carteira de trabalho.

Tem o puxa-saco, tem aquele que joga bosta no ventilador o ano todo, tem aquela que adora uma fofoquinha, tem pra todos os gostos. E no fim do ano, no ponto máximo do corporate, você é obrigado (é obrigado sim. Diz que não vai participar sem um motivo coerente para você ver) a dar aquele tapa nas costas e rasgar a seda:

- eu tirei uma ótima pessoa, muito esforçada, dedicada, e trabalhadora que tem muita força

É um constrangimento só. Situação pior é quando você não consegue disfarçar o incômodo, e as palavras saem engasgadas. Aí começam os boatos, e meu amigo, pode crer que aquela pessoa que já alimentava uma antipatia natural por você, vai passar a ter certeza que você é um completo idiota.

O fato é que a gente despende tanto tempo nestes compromissos que integram um código de conduta duvidoso que deixamos de fazer as coisas que realmente importam. E isso tudo para agradar aaqueles que não se importam, não ligam, enfim não estão nem aí para o nosso couro indo embora dia após dia.

Bom seria se a cada ano, nossos amigos ocultos fossem feitos com aqueles que realmente gostamos, e não com pessoas que trabalham contra nossos sonhos ou que passam boa parte do ano nos dando presentes de grego. Não que tenhamos que desejar o mal para elas. Elas podem podem bolar um amigo oculto entre elas. Que tal? E a gente faz o nosso.

Seria ainda melhor se a gente pudesse dar um saco cheio de gentileza, ou de generosidade, ou de qualque coisa não ligada ao mundo das coisas. Qual seria a reação? Afinal, gentileza não tem marca e nem etiqueta de boutique.

Mas a hora é de se pensar em melhorar as coisas, por que como diz o sábio, “pior que tá não fica”.

Apesar de não gostar da época, faz parte realizar uma breve reflexão. Mas presentes acabam por anestesiar o ego. E a ânsia por querer agradar o outro acaba impedindo a nossa própria autocrítica. Será que isso realmente nos agrada?

domingo, 5 de dezembro de 2010

Contos Sujos - Quente Solidão - Parte 3


Se você não está acompanhando este conto, leia as primeiras partes aqui em baixo. Se está, manda bala na última!

Jane estava nervosa. Continuava falando muito:

-Alec, Alec? me desculpa, não devia ter feito isso... estou arrependida, por favor, estou desesperada, entenda... o que você está fazendo. Posso falar com você? Posso ir aí? eu não sei... fala alguma coisa pelo amor de deus, seu cretino! Não quero falar daquele jeito de novo.. eu acho que eu gosto de você cara, acho... estou confusa...

Alec escutou tudo pacientemente. Não sabia o que dizer. Soltou a primeira coisa que veio a cabeça, sem pensar:

-traga a Julie aqui.
-como assim Alec, o que tem a Julie a ver com a gente?

Alec disse novamente sem explicar:

-traga a Julie aqui. Se você quiser ver, pode ficar também.
-como assim Alec, do que você está falando? - perguntou Jane
-quero ver a Julie. Tenho tesão nela.
-puta que pariu Alec, você é um filho da puta.

Jane bateu o telefone com força. Alec novamente não se preocupou. Levantou-se e saiu da posição de transe. Foi até a cozinha e preparou algo para comer. Ovos com bacon. Jogou as embalagens no chão. Enquanto o cheiro de fritura se espalhava pelo apartamento, ligou o som.

Escolheu um Blues. Jhon Lee Hooker. Comeu, se fartou. Pouco mais de quarenta minutos depois, sua campainha já estava tocando. Foi a porta, agora completamente nu, e olhou pelo olho mágico. Era jane. E estava acompanhada de Julie. Ele virou a maçaneta, e atendeu:

-olá, en...

Não deu tempo de terminar de falar. Jane aplicou-lhe um tapa com a mão espalmada. Ele fingiu não sentir. Fez um gesto para que elas entrassem. Elas entraram e se sentaram. As duas em um sofá, ele de frente para elas. Começaram um breve diálogo. Jane queria saber tudo:

-o que estava fazendo esta semana?
-pensando - disse Alec, nu, sentado e de pernas cruzadas.
-e agora o que está fazendo?
-pensando - Alec desdobrou as pernas. Seu pênis estava duro.

Julie ficou corada. Jane furiosa. Ela o repreendeu:

-vai deixar está merda desse jeito? Nos chamou aqui para isso?

Alec não respondeu. Levantou-se e foi em direção a Julie. Jogou seu corpo em cima do dela. Agarrou-lhe os seios com voracidade, quase rasgando a blusa. Enfiou sua língua como uma serpente na boca da mulher. Julie respondeu. Pegou o pênis do homem com força, fazendo um movimento rápido para cima e para baixo. Jane olhou a cena chocada e falou, boquiaberta:

-mas vocês dois são uns filhos da puta!

Não demorou muito para que fossem para a cama. Julie gritava, querendo ser atacada. Jane tirou a roupa, deitou-se ao lado, jogando o corpo de Julie para fora da cama.
Virou-se para Alec, dizendo com autoridade:

-você é um filho da puta. Mas é o meu filho da puta.

Alec seguiu revesando-se entre as duas mulheres tomadas de tesão. Tinha pensado muito durante a semana Era muito tempo. E a única conclusão a que havia chegado era que "tesão é tesão" e ponto final. Arrumou-se e resolveu sair para pensar um pouco. Sua cabeça estava uma bagunça. Uma cerveja lhe faria muito bem.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Contos Sujos - Quente Solidão - Parte 2


Se você não está acompanhando este conto, a primeira parte está logo aqui em baixo. Se está manda bala na segunda!

Do outro lado da linha, uma voz perguntou:

-Alec? Alec? me responde cara, to tentando falar com você durante todo esse tempo... eu não sei.. o que você ta fazendo Alec, você ta me escutando? Me responde porra, to desesperada pensando que você morreu. Já faz uma semana... tá todo mundo perguntando. O que tá acontecendo Alec? Me fala, preciso te ver cara, me fala...

Alec desligou o telefone. Tentou se concentrar novamente. Segundos depois o barulho irritante do telefone recomeçou. Era Jane. Insistente. Alec pensou em não atender. Mas era óbvio que a mulher estava desesperada. Se ele não atendesse, ela poderia, em alguns minutos, estar ali na porta dele, esmurrando desesperadamente para entrar.

Preferiu não correr o risco. Atendeu o telefone. Desta vez falou. Mas sua voz parecia a de um morto, sem vida, sem qualquer tipo de sentimento. Saiu seca, dolorida:

-olaaá... - falou prolongando a última sílaba, mas foi interrompido
-seu filho da puta! eu tô desesperada preocupada com você e você bate o telefone na minha cara? Seu escroto! O que que você tem dentro dessa cabeça hein? Você me come, faz o que quer e... porra! Você quer que eu vá aí na hora que sua pica quer é? Isso acabou aqui... - ela falou aos berros, engolindo sílabas e cospindo outras tantas

Foi Jane quem bateu o telefone desta vez. Mas Alec não se sentiu aliviado. Sabia que o telefone ia voltar a tocar. Ou que na pior das hipóteses, a porta dele seria derrubada a socos e ponta pés.

Concentrou-se novamente e voltou para dentro de si. Conseguiu pensar durante mais algumas boas horas sem sem incomodado. O episódio do telefone pareceu até bom. A concentração aumentou e o cansaço parecia apenas um detalhe pequeno.

Mas o que Alec pensara, havia se confirmado. No início da noite, o telefone tocou novamente. Era Jane. Parecia estar arrependida do que tinha feito. Aquilo preocupou Alec ainda mais. Aquela conversa tinha tudo para ser longa. E ele ainda tinha muito o que pensar.

Continua...

Contos Sujos - Quente Solidão - Parte 1


O telefone celular tocava sem parar. As janelas estavam abertas. O vento gelado do inverno de Big City entrava congelante. Alec estava no meio da sala, sem camisa, de frente para uma das janelas, em silêncio, pensando. Já tinha uma semana que estava na mesma posição de meditação, sem esboçar qualquer reação. Sem ir ao banheiro cagar. Sem deixar de se concentrar. Mas o telefone não parava.

Alec sempre fora sozinho. Não que não gostasse de gente. Na verdade gostava é da solidão, e tinha necessidade em mante-la viva. Sempre achou que as pessoas demandavam muito tempo com amenidades tão bobas que não valia a pena se esforçar para compreendê-las. Naquela semana, havia tomado uma decisão. Não faria outra coisa, a não ser pensar. Deixou tudo. O escritório, os compromissos, tudo.

Do ouro lado da linha, Jane insistia. Já havia perdido as contas de quantas vezes havia tentado falar com Alec. Os dois estavam envolvidos. Ou Melhor, Jane se envolvera primeiro. Alec não sentia nada além de tesão. Quando perguntado sobre amor, e sobre essas baboseiras, tinha sempre a mesma resposta:

-cara, o homem do lado de uma mulher vira um saco de bosta, como dizia o poeta. Você pode ter tudo cara, pode ter tudo... porra, mas você quer é virar um sacode bosta? Prefiro tesão cara, tesão saca? aquela parada dura, você va lá, e faz...

O telefone seguia tocando sem parar. Aquilo realmente começara a atrapalhar os pensamentos de Alec. Pensou em pegar aquela merda e jogar pela janela. Mas foi impossível continuar Não conseguiria se concentrar novamente. Saiu do transe. Olhou pra o telefone. Esticou o braço e atendeu.

continua...

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