terça-feira, 21 de junho de 2011

Contos Sujos - Diálogo com a Morte - Parte 3


Se você não está acompanhando este conto, leia as primeiras partes logo aqui em baixo. Se está, manda bala na última!


Marcelo refletiu por um momento. Tinha agora um semblante bem mais tranqüilo. Passou a enxergar no Barman uma figura de extrema sabedoria e paz interior. Em seguida, com um leve sorriso, ponderou:

Marcelo: Mas, Sr. Morte, eu estou morto, não se lembra?
Barman: Ah, sim! (risadas) Você está morto.

Os dois caíram em gargalhadas, até que chegou o barco que levaria Marcelo até o Julgamento. Era um pequeno bote com dois remos. Curiosamente, ele chegou vazio.

Barman: Vamos lá, Marcelo. Vou te conduzir até a sala do Julgamento. Não tenha medo. Entre no barco.
Marcelo: Você me garante que não preciso ter medo?
Barman: Eu prometo. Repito, aqui não é a Terra. Não existe o medo.

O barco saiu em direção ao infinito do oceano. O Barman remava pacientemente, e os dois continuaram conversando.

Marcelo: Sabe, Sr. Morte, aqui parece ser muito melhor do que lá na Terra. Esse paraíso me passa agora uma paz que eu nunca tive.
Barman: Mas aí está o grande desafio de Deus, garoto. Encontrar a paz num ambiente caótico como tem sido a Terra. Aqui é muito fácil ter paz.

Os dois continuaram conversando, até que o celular do Barman tocou. Era Deus. Conversaram por algum tempo, até que o Barman desligou o celular e disse:

Barman: Bom, rapaz, nós temos aqui um engano. Você não devia estar morto.
Marcelo: O que?! Como assim?
Barman: É isso mesmo. O Senhor me contactou agora e me disse que houve um engano. Você está se recuperando no hospital. Está inconsciente, mas fisicamente está bem.
Marcelo: Impossível. Eu estou morto sim. Quero ficar aqui, não quero voltar para aquele inferno lá embaixo.
Barman: Mas não está na hora de você morrer. Você terá que voltar, Marcelo. Obedeço a ordens superiores.
Marcelo: Não, Sr. Morte, por favor. Não quero viver.
Barman: Sinto muito, garoto. Reencontraremos-nos novamente. Leve os aprendizados que você teve aqui e aproveite a vida. Ah, e não se candidate a nenhum cargo político.

O Barman pegou uma âncora no fundo do barco, enquanto Marcelo se mostrava confuso e cabisbaixo novamente. Em seguida, completou:

Barman: Irei amarrar essa âncora em um de seus pés. Em seguida você vai pular dentro d’água e vai acordar na Terra em pouco tempo.

O Barman foi andando em direção a Marcelo, que retrucou:

Marcelo: Vamos fazer negócio, Sr. Morte.
Barman: Aqui não tem negócio, garoto. Vamos amarrar isso em seus pés.

O Barman tentou entregar a âncora a Marcelo, porém este se assustou e começou a andar para trás. Deu dois passos e tropeçou na borda do barco, caindo dentro d’água.

Cerca de duas horas depois, Marcelo abriu os olhos. Estava no hospital, e sentindo-se muito bem, por sinal. Sua mãe soltou um grito de alegria, e em seguida começou a chorar. Mãe e filho se abraçaram, e começaram a conversar sobre os sentimentos que cada um teve durante a inconsciência de Marcelo. No fim do diálogo, sua mãe revelou:

Mãe: Marcelo, você disse algo, mais ou menos uma hora antes de acordar.
Marcelo: Ah, é? O que foi que eu disse?
Mãe: Acho que você disse: “Somos bons porque somos bons”

Arthur Viggi

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