quinta-feira, 25 de março de 2010

Conto Sujos - Rompendo-Parte 3


Se você não está acompanhando este conto, as duas primeiras partes estão logo aqui em baixo. Se está, manda bala na última:

Chegou a esboçar o movimento para levantar-se da cadeira para ir até o balcão, mas não foi preciso. Antes disso, alguém o interpelou:

-precisa de fogo para acender?

A mão já levava o fogo até a boca de Jake. A mulher que o observava do lado de dentro, agora estava na sua frente, oferecendo o que ele precisava. O dois se olharam. Aquele instante pareceu durar uma eternidade, não que fosse qualquer tipo de sentimento, mas parecia que os dois de alguma forma já tinham se conhecido, ou este tipo de coisa que não é capaz de explicar a conexão de tudo mas que faz todo o sentido.

Jake levou o cigarro à boca, acendeu e deu duas tragadas fundas. Havia muito tempo que não sentia aquela sensação. Quando voltou a si, a mulher estava sentada na mesa da frente, fitando-o. Quem tomou a iniciativa da conversa foi ela:

-tanto tempo para escolher um cigarro?
-sim, tem muito tempo que não dou uns tragos...

A mulher também acendeu um cigarro, enquanto continuava o diálogo:

-você não estava apenas escolhendo um cigarro. Estava escolhendo entre coisas que você tem e coisas que você já não tem mais – a mulher também deu uma longa tragada
-e o que você sugere?
-você pode voltar a ser um garoto e acreditar que vai mudar tudo, vai fazer com que toda essa porcaria que a gente vive se transforme em uma carona interminável pelas ruas que você sempre sonhou em pisar e acordar amanhã com um porre daqueles, mas com a mesma cabeça juvenil de outrora, e achar que tudo que te desiludia desceu ralo abaixo com o vômito e a ânsia de sua vontade de ter liberdade, com o sentimento de que “vamos todos ser felizes amanhã”, com o caddilac berrando na sua porta com alguém gritando, “vem logo”, e guardar esta ilusão para cada dia que você ainda há de viver.

Jake pensou em tudo aquilo, tragou e voltou a perguntar:

-tenho outra opção?

Foi a vez da mulher tragar. Olhou desprentensiosamente para a rua, enquanto a resposta veio fria e calculada:

-você pode viver como um homem e encarar toda essa porcaria. E se escolher esta opção, tenho mais cigarros em minha casa.
Jake percebeu que havia crescido. E não tinha como voltar a trás. Naquela noite fumou todo tipo de cigarro, sem qualquer remorso.

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