segunda-feira, 15 de março de 2010

Culto e Grosso - Palavras para um condenado


Os dois textos abaixo são assinados e portanto refletem exclusivamente a opinião de seus autores. Após a leitura fiquem livres para opinar também.



— TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO —


Fui ver o filme Cazuza há alguns dias e me deparei com uma coisa estarrecedora.. As pessoas estão cultivando ídolos errados..
Como podemos cultivar um ídolo como Cazuza?

Concordo que suas letras são muito tocantes, mas reverenciar um marginal como ele, é, no mínimo, inadmissível. Marginal, sim, pois Cazuza foi uma pessoa que viveu à margem da sociedade, pelo menos uma sociedade que tentamos construir (ao menos eu) com conceitos de certo e errado.

No filme, vi um rapaz mimado, filhinho de papai que nunca precisou trabalhar para conseguir nada, já tinha tudo nas mãos. A mãe vivia para satisfazer as suas vontades e loucuras. O pai preferiu se afastar das suas responsabilidades e deixou a vida correr solta.

São esses pais que devemos ter como exemplo?

Cazuza só começou a gravar porque o pai era diretor de uma grande gravadora..
Existem vários talentos que não são revelados por falta de oportunidade ou por não terem algum conhecido importante.

Cazuza era um traficante, como sua mãe revela no livro, admitiu que ele trouxe drogas da Inglaterra, um verdadeiro criminoso. Concordo com o juiz Siro Darlan quando ele diz que a única diferença entre Cazuza e Fernandinho Beira-Mar é que um nasceu na zona sul e outro não.

Fiquei horrorizada com o culto que fizeram a esse rapaz, principalmente por minha filha adolescente ter visto o filme. Precisei conversar muito para que ela não começasse a pensar que usar drogas, participar de bacanais, beber até cair e outras coisas, fossem certas, já que foi isso que o filme mostrou.

Por que não são feitos filmes de pessoas realmente importantes que tenham algo de bom para essa juventude já tão transviada? Será que ser correto não dá Ibope, não rende bilheteria?

Como ensina o comercial da Fiat, precisamos rever nossos conceitos, só assim teremos um mundo melhor.

Devo lembrar aos pais que a morte de Cazuza foi consequência da educação errônea a que foi submetido. Será que Cazuza teria morrido do mesmo jeito se tivesse tido pais que dissesem NÃO quando necessário?

Lembrem-se, dizer NÃO é a prova mais difícil de amor.

Não deixem seus filhos à revelia para que não precisem se arrepender mais tarde. A principal função dos pais é educar.. Não se preocupem em ser ‘amigo’ de seus filhos.
Eduque-os e mais tarde eles verão que você foi à pessoa que mais os amou e foi, é, e sempre será, o seu melhor amigo, pois amigo não diz SIM sempre.’

* Karla Christine – Psicóloga Clínica


— ADVOGADO DO DIABO —

Minha opinião sobre a revolta desta mulher é que se trata de um discurso extremamente baseado em falso moralismo. Não vejo nada de mais no Cazuza, e diversas atitudes dele ao meu ver foram de muita imbecilidade, claro, tendo essa constatação feita somente em cima do meu ponto de vista, não dito verdades universais.

Mas não é por ter minhas opiniões sobre a pessoa dele, (sejamos justos, não são opiniões muito bem fundamentadas, estou tratando a questão de forma superficial apenas para chegar onde me preocupa), que eu creia que que ele não possa ser discutido. São feitos filmes sobre pessoas dos mais diferentes meios e mensagens de vida, e ninguém é santo para ser visto por um prisma partidário e plano.

Dá para se aprender com experiências ruins e boas dos outros. Concordo que o filme buscou gerar um glamour em cima de pontos que não mereciam, ou seja, certas ações dele foram tratadas de forma errônea ao meu julgamento, mas é um produto da Globo Filmes, o negócio deles é vender, não concordo nem discordo com isso, vivemos em função do capitalismo e no final “todo mundo” busca aproveitamentos de oportunidades para lucrar.

Achei o filme péssimo, como diversão e como filme mesmo. Daria uma nota baixa para ele. É visível que o filme tentou jogar com esta visão que o popular tem da personalidade do cantor em questão como sendo um herói. Mas penso que as pessoas não sejam ingênuas em levar tudo que o filme diz como sério, ou que também cada um deveria ter seu julgamento bem estabelecidade e idéias firmes para decidir ser o que é passado é bom ou ruim.

Achas que estou sendo otimista demais com a espécie humana? Talvez seja. Mas se o filme mostrasse tudo que ele passou como ruim, e as pessoas por isso vissem então estas ações como certamente um indiscutível mau exemplo de vida, continuaria sendo uma alienação de pensamento.

A proposta da psicóloga é que só façamos filmes bacanas com boas mensagens (boas mensagens para quem? com base no quê?) e sobre pessoas aparentemente acima de qualquer dúvida quanto ao “bom comportamento”, tudo isso por um mundo melhor. Vamos tirar então de vista os extremos do que ela julga errado, e extrematizar o que ela julga certo. Continua sendo manipulação de idéias. A culpa do que a sociedade é não deve ser posta em cima da arte.

A arte reflete uma sociedade e seus comunicadores, e se temos uma arte burra é pois as pessoas que consomem são burras para aceitar aquilo e gostar e assim continuar contribuindo e incentivando novas produções. Lute pela coisa certa, e puxando a questão familiar, eduque da forma certa.

O que precisamos são de mentes pensantes para discutir em vez de buscar padrões, não de mentes receptoras de idéias prontas para se tornarem apenas ruminadores de comportamentos e visões forçadas por uma moral criada e imposta, sejam estas visões boas ou ruins. Você quer ser pai de um papagaio, clone de sua mente, ou ter como orgulho um filho independente em idéias próprias?

Para se ter alternativas existenciais precisamos de alternativas ideológicas e mentes abertas para digerir isso prol de uma evolução, não importa como e onde, o que importa é a essência dos objetivos sinceros.

* Ismael Alberto Schonhorst – Teórico da Comunicação

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