quinta-feira, 25 de março de 2010

Conto Sujos - Rompendo-Parte 2


Se você não está acompanhando este conto, a primeira parte está logo aqui em baixo. Se está, manda bala na segunda!

Jake pegou um mentolado, negro. Para quem não fumava há mais de 3 anos, um pouco de cautela não faria mal. Sabia que em pouco tempo voltaria ao filtro vermelho. E já nem se importava tanto. Enquanto vacilava na escolha do cigarro, não notou que estava sendo observado.

Na mesma fileira, uma mulher o observava. Tinha 35 anos, talvez um pouco menos , cabelo um pouco a baixo da linha do ombro, alguns fios mais claros, ainda conservava belas curvas que não eram escondidas pelo vestido verde escuro, que solto torneava seu corpo e lhe davam ares ainda mais joviais.

Parte das suas pernas invariavelmente ficavam expostas, chamando atenção de cada um que quisesse ou não olhar, cada um tentando desvendar o que de melhor existiria entre aquelas duas perfeitas construções. Sem fazer questão de disfarçar a mulher analisava cada movimento, estudava cada passo, observava a indecisão na cabeça de Jake, especulava, fazia com que aquele jogo continuasse sedutor e intrigante. Jake se sentiu encurralado.

Andava tão abatido com tudo que havia se esquecido que este tipo de coisa acontecia, mulheres eram fogosas, lhe davam corda, mesmo sendo mais um, mesmo sendo Jake não Kerouac, mais um na multidão.

Apesar de não ser exatamente um homem bonito, ele ainda conservava algo de sua juventude rebelde e boêmia, coisa que não se esquece nunca, que não se perde, e ainda sim poderia ser utilizada , poderia ser mastigada se qualquer mulher assim quisesse. A forma como o tempo havia passado também havia transformado sua expressão, agora mais contida e serena, mais caracterizada como homem.

Jake pegou o cigarro e caminhou até o balcão. Enquanto caminhava, voltava seu olhar para onde estava a mulher. Por um momento, seu olhar vacilou. Não conseguiu continuar olhando de forma tão penetrante quanto sua oponente. Resolveu não mais tentar enfrentá-la. Pagou o cigarro e se dirigiu até as mesas que ficavam do lado de fora, de frente para a principal de Big City. Ali, lembrou-se, que sem fumar a tanto tempo era óbvio que lhe faltava algo: fogo.

A mão foi até o bolso de sua camisa flanelada xadrez. É claro, nada de isqueiro, nada de fósforos. Por um momento riu de si mesmo. Riu do quanto havia se tornado quadrado. Perguntou-se: ora, como um homem que viveu o que eu vivi, não tem fogo? Que grande merda...

Continua...

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