domingo, 1 de novembro de 2009

Sujos Factual - Relações parasitárias


Sua trajetória na corporação começou a um ano atrás. O cargo era estagiário. Porém, o destino havia lhe reservado a satisfação dos encargos e da tranquilidade.

Em sua primeira reunião como efetivo sentiu a porrada que foi o ano cair em seu colo. O diálogo foi mais ou menos assim:

-os trabalhos são os seguintes: escovar a boca do jacaré, trocar a fralda do elefante, tacar fogo na caixa de marimbondo, fazer carinho no porco espinho e preencher relatórios administrativos aqui no escritório. Inclusive acabei de comprar um novo ar condicionado para a sala e o café está fresco. Os biscoitos chegam em dez minutos – disse o coordenador do setor da empresa lendo a lista atenciosamente.

Como havia sido efetivado na corporação, seu estatuto agora já não era mais de estagiário. Durante aquele ano, nunca havia ficado no escritório tomando café e preechendo relatórios. O jacaré e o porco espinho já eram conhecidos. E caixa de marimbondo passou a ser diversão de tanto fogo que foi obrigado a atear. Seu companheiro de trabalho, ao contrário, já havia desfrutado daquelas “facilidades”, e teve pouco contato com o elefante.

A proposta foi tentadora. Balançou. Pensou em deixar para o novato todas as tarefas que haviam lhe estorvado todo o tempo no último ano e ficar com os relatórios. E a proposta indecente foi feita por seu companheiro em alto e bom som:

-vamos dividir o departamento. Cuidamos da parte administrativa, dos relatórios. Deixe a parte manual para o estagiário.

Sabia que não estava certo, e por isso não tinha condições de aceitar este tipo de proposta. Preferiu se calar, e continuar limpando, fazendo carinho e escovando o jacaré. Relações parasitárias nunca lhe interessaram. E quando elas existem, qualquer outro tipo de sentimento inexiste.

Um comentário:

  1. Fala mano!
    Mt bom!

    Pra fazer bem feito, faca vc mesmo.

    abraco!

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