terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Música Suja - Era uma vez um patinho feio, diferente de todos os seus irmãos, que rejeitado por sua mamãe vivia triste e sozinho(...)


É indissociável a relação arte-sociedade. Desde os confins existenciais da humanidade, a sobreposição da realidade sobre o córtex cerebral dos mais inspirados indivíduos transcende a esfera da reflexão e chega à concretização do sentimento em alguma forma expressiva. Independente da matiz artística ou estética, os acontecimentos sociais sempre foram determinantes na concepção do artista ou mesmo augúrio para as correntes vanguardistas.

O Rock and Roll surgiu na década de 50 do século passado, como movimento de antítese à ideologia dominante, o tradicionalismo e o status quo pregados pela liturgia coletiva. A carga emotiva do Blues, o balanço do R&B, aliado aos vocais altos e gritados, compuseram a trilha sonora da juventude ocidental por vários anos, erigindo-se como hino de libertação, reivindicação, subversão e deglutição de todo o paradigma comportamental, estético ou político pregado na modernidade.

Entretanto, como o sistema de produção absorve tudo que é das massas e transforma-o em produto, com o Rock não foi diferente. E como o público jovem, predominante consumidor deste gênero musical, é absolutamente sedento por ideologias, filosofias e estilos de vida, o Rock ideológico transforma-se na superestrutura rentabilíssima que conhecemos hoje.

Rock and Roll, antes uma gíria tipicamente sexual, utilizada pelos negros estadunidenses, posteriormente empregada no balanço do Post Rhythm and Blues de Louis Jordan e sua patota , ganha substância categórica com o DJ Alan Freed e suas festinhas nos anos 50 . Atualmente perpassa a esfera conotativa dos signos e transforma-se em entidade suprema para legionários e correligionários de uma legião e religião.

Qual seria, portanto, a causa desta explanação pseudo-histórica, apócrifo leitor? Ahhhhh claro ! Pertinaz indagação ! Rock , Sociedade, Arte, Realidade … modernosa antiguidade! Semelhante à estética musical e fashionista Indie, ao pedantismo literário-roqueiro e seus desdobramentos, ou não; o propósito, meu caro, se é que podemos revestir este artigo com propósito, é chegar à Era do Twitter, do amor líquido e das esquizofrenias juvenis frente à dilatação da informação! E para demonstrar nosso impetuoso espírito burlesco, tentaremos situar o Rock and Roll neste mundinho Pra Frentex! Dito isto, inicia-se aqui nossa breve epopéia: O FILHO BASTARDO .


Os anos 00, uma contabilidade eficaz para organizar a cultura pop (em décadas), inaugurou a Era das Trevas do Rock and Roll e mais uma vez centenas de profecias apocalípticas anunciaram o seu fim.O New Metal, vivia seu ápice - beirando o esgotamento - no início da década, enquanto roqueiros-inquisidores puristas acusavam os protagonistas do movimento NU de traidores audaciosos !- Sacrílegos que fundiam elementos hip-hopistas no TRUE HEAVY METAL ! Porém, como professa o insigne filósofo Murphy: “Não há nada tão ruim que não possa piorar!” E piorou.

A gabolice permeou o movimento de tal forma, que atingiu seu ápice. Entre razões e emoções, o Rock and Roll caminhou ... para o precipício!

Brotava do descomprometimento adolescente, consagrado pelo Poppy Punk, a vertente mais triste (literalmente) e vergonhosa até então: o EMOCORE !

Anos atrás, seria inimaginável a qualquer headbanger xiita, ou a um conhecedor moderado do assunto, uma ramificação roqueira que englobasse elementos pacifistas, característicos da década de 60 + simplicidade técnica e harmônica, típicos do Garage e do Punk Rock + a androginia estética dos anos 80 + Bissexualidade + Pusilanimidade num só estilo. O Emocore nasce contraditório, polêmico, provocante, amado e odiado na conjuntura Pós-Moderna.

É interessante observarmos, como a lógica multifacetada, multicultural e pluri-identitária da sociedade contemporânea, contribui consideravelmente para este tipo de expressão artística e estética. O mundo “politicamente correto”, acarreta no rock nada subversivo, nada insolente, nada agressivo e nada politizado. Críticas à parte, insistimos na indissociável relação arte-realidade !

Por mais que entusiastas do movimento punk ataquem os nossos indefesos coleguinhas emo, o fato é que a estética, assim como o punk dos anos 70, choca! As bandeiras são diferentes, não obstante a nova geração insurja com um movimento que canta, de fato, as dores da juventude, portanto, sem rupturas com a proposta original do Rock and Roll.

O elemento emotivo,por outro lado, sempre esteve presente no gênero, a livre sexualidade inclusive talvez tenha sido a maior causa desta arte, assim como a livre expressão e a própria liberdade de escolha. Portanto, sem querer ser moralista ou politicamente correto, nem injusto com o Emocore, o filho bastardo do Punk e do Rock and Roll, ao contrário do que muitos dizem, continua operando antiteticamente aos paradigmas e preconceitos sociais e fiel à proposta tradicional do movimento.


A pusilanimidade do emo não é unicamente do emo. Surge como um reflexo expressivo adolescente de uma época de neutralização, de excessos e da esquizofrenia da informação. Ninguém sabe pra onde vai, de que lado fica ou o que realmente está acontecendo ! Algures já foi dito que “quem caminha em várias direções não caminha para lugar nenhum.”

Logo a percepção humana na pós-modernidade está submissa às quantidades... à quantificação dos sentimentos, das relações, das amizade e de outras manifestações verdadeiras do espírito humano, em detrimento de sua qualidade. E quem é o emo? O emo é o arquétipo desta época!

Entendemos por outro lado os ataques concernentes à despolitização do rock contemporâneo. Mas qual é a Carta Magna que define o Rock como um gênero musical única e exclusivamente engajado?


Por fim, fazendo um breve balanço da primeira década deste século, o messianismo preconizado pelos garotões do Real Rock and Roll (Strokes, Artic Monkeys, White Stripes e outros) vinga posteriormente mais numa forma de incipiência midiática, que num movimento com raízes e diálogo sincero com a década.

Na substância infinita, por mais que muitos queiram seu Juízo Final, o Rock´N`Roll ganha a colherada de mel em seu etilismo e acidez, transformando o ouro, o metal e as lágrimas em purpurina eletrônica, como pressagiam os Hypes e a New NU Wave nesta nova década. Posto isto, eis a questão:

O quê vai mal? O Rock?! Ou a Sociedade !?


Gabriel Muzzy

4 comentários:

  1. Nossa! I'm the black sheep of the family. Janis Joplin, Deep Purple and Black Sabbath.
    Permita-me, ó alfa centauro, que meu burro cor de rosa se ilumine para o todo e sempre.
    Viva Serguei e a psicodelia não assimilada pelo mainstream. Rogério Skylab, é fato, um falo, não falo, um rato, rápido e um rapto.
    Que vendam o rock rotulado, mas que o contéudo do pote seja sempre o mesmo! Amém!

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  2. "A juventude é uma banda numa propaganda de refrigerantes"

    Os antigos alvos anestesiaram o roquenrou e nessa aliança com velhos inimigos, tem voz quem é cordeiro e calam os velhos lobos insurectos na atmosfera de mercado. O roquenrou perdeu os motivos de rebelião, e assim perdeu os próprios rumos.

    Concordo quando disse que os emos, não deixam de fazer jus aos atencedentes. Mas, o problema que assola o roque está no despraro, na falta de causas, na alienação dos indivíduos que o fazem.Não há ideologia, não há qualidade, não há novidade.

    Mas, essa estagnação do Rock não será eterna, logo, ele ressurgirá com algo surpreendente. Pois, a capacidade de surpreender é o que mais dá força ao roquenrou!

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  3. Insignes companheiros de roquenrou de forma alguma quis revestir o suntuoso âmbito do mainstream com qualquer teor de defesa ou ser simplório a ponto de enquadrar todo o movimento na teatralização midiática montada pelo capital da indústria cultural. A proposta foi transcender as categorias de apreciação musical unicamente estéticas e tentar absorvê-las junto ao contexto sociológico contemporâneo. Assim como os primórdios do rock são inspirados nos acontecidos do pós 2ª Guerra Mundial, acredito que há uma relação importante entre a REALIDADE SOCIAL CONTEMPORÂNEA e a versão Emo Sapiens do Rock and Roll.

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  4. Cara, muito bom teu texto. Porém, desde que Elvis e sua geração eletrificaram o blues, tudo o q surgiu no rock já nasceu como produto. Os próprios Pistols (q ilustram o teu post) e o movimento punk,apesar de toda aquela rebeldia alardeada, foram fabricados e cresceram apoiados pela indústria da moda. Maldição, os caras detonavam bandas como o Zeppelin mas tb gastavam tudo o q ganhavam com drogas, birita e mulheres. Portanto, qdo perguntas - O quê vai mal? O Rock?! Ou a Sociedade !? - Acho que, no fundo, já sabes a resposta... Ambos. Porque te enganas se ainda achas que uma banda como o Sonic Youth ou qualquer outra do gênero "não estou nem aí" vá surgir nos próximos anos. A garotada agora canta a plenos pulmões "show me the money, yeah!" enquanto batuca nas latas de Sopa Campbell's, you know?

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