terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Contos Sujos - Passado - Parte 1


Jane realmente sempre teve sérios problemas, como qualquer criança que crescesse em um ambiente ostil como Big City. Apesar de toda sua infância ter sido permeada por todo tipo de comportamento doentio, havia se tornado uma jovem adorável e competente, mas com traumas que a perseguiram durante toda sua vida. Seu grande medo sempre fora seu passado, que insistia em retornar nas pequenas coisas do seu dia. Talvez por isso, se prendia ao trabalho, ocupando-se com jornadas cada vez maiores.

O trabalho na Mancorp era duro. Ser assessora da principal poluidora da cidade não era fácil. A usina, diariamente despejava na atmosfera da cidade, toneladas e mais toneladas de pó de carvão, que coloria ruas e casas com a tonalidade cinza que a cidade havia tomado em alguns anos. Em troca, a cidade consumia a energia nos aquecedores, fornos e chuveiros quentes que amenizam o clima nada amistoso de BC.

Seus dias seguiam basicamente ao mesmo protocolo: na parte da manhã, envio de releases para a imprensa da cidade e reuniões com os principais setores da usina para captação de informações. Na parte da tarde, seguidas reuniões com a diretoria da empresa, para emissão de relatórios. No fim do dia, Jane procurava algo para ocupá-la até o início da noite, ficando na Mancorp até que todos fossem embora. Costumeiramente era a última a sair.

Talvez por sua postura rígida, parecia ser menos atraente do que realmente era. Os trajes sempre alinhados escondiam muito de seu corpo. Propositalmente. Cabelos sempre presos, com um penteado acima da cabeça, e óculos com grossas lentes aumentavam a sensação de que Jane tinha pouco ou quase nada de sexy. Mas ainda sim, convivia com cantadas cafagestes.

Na usina, praticamente todos os funcionários eram homens. Uma grande parte trabalhava nas caldeiras. Outros, com a logística, carregando todo tipo de coisa. O cheiro desses lugares logicamente não era agradável. Transpiração, perfumes vagabundos e todo tipo de cheiro se misturavam com gracejos em nada corteses. A última vez que Jane havia descido até o chão da fábrica, pelo menos cinco ou seis fizeram algum tipo de “elogio”.

Para ela não era fácil suportar aquilo. Era o passado voltando instantâneamente.

continua...

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