segunda-feira, 26 de abril de 2010

Culto e grosso-Lirismos bundão, comigo não!


Estes tempos atrás eu estive farto do lirismo comedido, bem comportado. Dei o meu uivo poético aqui, n'Os Sujos. Há muito tempo atrás, Bandeira também estava farto do lirismo comedido, bem comportado. Ele queria o lirismo dos loucos, dos bêbados e dos clowns, o lirismo da libertação. Leiam agora o uivo de Bandeira, e se ainda não leram, o meu também está aqui:



Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Manuel Bandeira
(1886-1968)

Um comentário:

  1. há algo pra se dizer?
    Excepcional..

    "Estou farto do lirismo namorador
    Político
    Raquítico"

    ResponderExcluir

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