quarta-feira, 7 de abril de 2010

Conto Sujos - Dignidade - Parte 1


Havia três anos que Liddel trabalhava duro nas caldeira da Usina de Carvão de Big City. O trabalho realmente não era fácil. As caldeiras eram alimentadas durante todo o dia e toda a noite. Em nenhuma hora do dia o serviço parava. O fogo tomava conta do setor, misturando-se a sujeira e a um pó que tomava conta do ar, tornando-o grosso, quase que não respirável.

A folga durante o almoço (que por vezes nem acontecia, por conta do volume de trabalho) era o único momento em que Liddel tinha tempo para pensar em algo, e para descansar do esforço descomunal a que estava sendo submetido. O trabalho era fiscalizado pelos “chacais”, os gerentes de setor, que ficavam posicionados em cabines climatizadas, acima das caldeiras.

Um sistema de som percorria todo o ambiente. Câmeras fiscalizavam a ação de cada um dos empregados. Se alguém parasse por algum segundo de alimentar as caldeiras, era imediatamente adivertido com algum insulto ou palavra de ordem. Quando a barra pesava para o lado dos chacais, a coisa piorava ainda mais naquele inferno para quem estava lá em baixo.

Por vezes, o pior dos chacais, um homem gordo e com aparêcnia desgastada pelo tempo, chamado de Zannack descia até as caldeiras para impor sua autoridade com insultos e intimidações. Liddel estava cansado daquilo. Sabia que não havia para onde correr. Em anos que estava ali, a equipe da usina sofria constantes baixas. Aquilo não era um lugar para fracos. Era necessário ter mais do que estômago para aguentar o quão mesquinhas aquelas pessoas eram.

A cada insulto, ou palavra dita carregada de ódio e desprezo, Liddel se segurava para não cair batendo naqueles sujeitos. O mesmo acontecia com os outros. E não foi fácil para Liddel se segurar na última vez que Zannack tinha descido até as caldeiras. Depois de insultar Melvin, um dos empregados da caldeira seguidas vezes, e aparentemente sem qualquer tipo de motivo, desceu até as cadeiras. Todos pararam para observar a cena.

O homem aproximou-se de Melvin destilando sua fúria aos berros:

-seu filho da puta, já gritei com você lá de cima 5 vezes! Já pedi com toda educação como eu peço para uma moçinha – gesticulava muito, apontando para o rosto de Melvim – olhe o tamanho do seu monte de lenha, e o dos outros! Acabe com isso, ou eu ponho você na rua!

Todos tinham seus montes de lenha. Cada um deveria dar conta de queimá-lo. O monte era claramente desproporcional ao trabalho. O de Melvin ainda estava um pouco acima dos demais. Porém, o cansaço tomava-lhe o corpo e a face. Não foi capaz de responder ao chacal. Apenas o olhou, com um olhar carregado de lealdade canina e continuou seu trabalho,jogando e jogando lenha para dentro do forno. Existia raiva ali. Por todos os lados.

continua...

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