quinta-feira, 1 de abril de 2010
Contos Sujos - Melodia - Parte 3
Se você não está acompanhando este conto, as duas primeiras partes estão logo aqui em baixo. Se está, manda bala na última!
Já trôpego, pegou seu copo vazio e levou ao balcão. Pediu ao garçon que preparasse mais um, e deixasse ao lado do banco no palco. Enquanto fez o pedido, tirou um saquinho do bolso. Nele havia algum tipo de pó. Entregou ao homem e disse:
-quando preparar meu drink, coloque isto por favor...
-não permitimos drogas aqui... – rebateu o sujeito
-isto não é droga. Coloque por favor.
O garçom olhou desconfiado, mas aceitou o pedido. Lancy correu até o palco sacou o violão e começou sua apresentação. Acordes rápidos davam o tom do folk. Sua voz saiu rouca, mas aos poucos foi ganhando força. A canção saiu assim:
Me deparo com pessoas que nada querem
Que me sublimam, me transformam em nada mais que nada
Que me olham cinicamente, e mentem
Que fecham as portas, para falarem baixinho
Coisas que nem seus pais, nem meus pais imaginam
É pura bobagem
Quem te dão um abraço com mãos forradas de espinhos
Beijos carinhosos de um veneno doce e infantil
E que eu aceito rindo
Que pisam em você, como pisam em um animal
Que comem sua pele como comem a refeição
Paga com meu sangue
Que dizem que de desejam, mas não ficam ao seu lado
Que te querem, mas “cospem” no seu carinho
Mas é assim
A canção acabou aqui
A melodia não tem ritmo
Os versos doem em meu ouvidos
Cala-te, fecha tua boca
A intepretação foi feita com calor. Enquanto dedilhava os últimos acordes, Lancy pegou o copo colocado pelo garçom ao seu lado, e bebeu. Bebeu toda a dose. As últimas notas saíram mascadas.
A melodia foi ficando lenta, ao mesmo tempo que o público com mais atenção acompanhava. A última palavra que saiu de sua boca foi impossível de ser entendida. Lancy moveu-se para frente.
O violão bateu antes no chão do palco. Sua cabeça atingiu o instrumento com violência. A respiração fraquejou. A melodia realmente havia acabado. E não era droga. Era uma passagem. Lancy não queria mais. Não aguentava mais. Era o Gran Finale. Caiu duro no palco, já se qualquer respiração.
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O melhor de todos os contos sujos.
ResponderExcluirUm conto em ritmo e melodia de poesia. Absolutamente impecável, ou absolutamente em pecados. Em cada referência um delírio. Nesse conto de um suícida, Big City mais viva e melhor compreendidade por mim...
Do Caralho brother!
agradeço cara! há muito queria escrever algo deste tipo, mas definir a personalidade de um suícida é difícil demais...valeu, agradeço muito pelo comentário!
ResponderExcluirExcelente. Gostei muito do conto, da mensagem passada, da escrita, da sinceridade... Parabéns ao escritor.
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