quinta-feira, 8 de abril de 2010

Conto Sujos - Dignidade - Parte 3


Se você não está acompanhando este conto, as duas primeiras partes estão logo aqui em baixo. Se está, manda bala na última!

O trabalhou recomeçou. Zannack, posicionado na cabine acima das caldeiras observava tudo. Os peões continuavam a jogar a lenha na fogueira. Liddel fez um movimento leve com a cabeça e observou a cabine. O homem mantinha um olhar sério. Quando seus olhares se cruzaram, Liddel jogou sua pá no chão. Zannack percebeu e berrou no alto falante:

-Liddel, seu filho da puta, pegue essa pá e continue trabalhando!

O operário nem se moveu. Aquilo irritou o homem que continuou berrando:

-Liddel, vou descer aí e vou te jogar dentro da caldeira!
-veremos – a resposta saiu como um susurro, enquanto todos observavam a cena

Zannack desceu a escadaria em grande velocidade, olhando fixamente para Liddel. Os peões abriram um corredor para que ele chegasse até perto das caldeiras, ardendo em fogo. Os dois se encontraram na zona de calor extremo, praticamente dentro do fogo. O chacal gritou apontando para Zannack:

-o que é isso? Pegue essa pá e volte ao trabalho agora, antes que eu ponha você fora daqui!
-não pertenço a você...

Enquanto discutiram, Liddel movimentou-se, seguindo uma trajetória circular, como se fosse brigar. Zannack não percebeu, mas agora quem estava de costas para o fogo era ele. Sua fúria aumentou ainda mais:

-que conversa é essa. Você trabalha pra mim Liddel. É melhor começar a jogar esta lenha para dentro destas caldeiras agora, ou arrebento você!
-ok...

Liddel, abaixou-se e pegou a pá. Lentamente colocou-se pé. Ajeitou-se, e agora, moveu-se rapidamente. O movimento que a pá fez agitou o ar ao redor. O barulho chamou a atenção de todos aqueles que não prestavam atenção à cena. O barulho do impacto foi seco. Depois, apenas o barulho da lenha estalando no fogo foi possível de ser escutado.

Liddel havia acertado em cheio a cabeça de Zannack. O impacto fora tão forte que o homem caíra do lado do fogo, desacordado. O corpo não esboçava qualquer reação. Todos olhavam assustados. Os chacais não tinham reação. A pá, com gotas de sangue, mantinha-se presa a mão. O olhar era impiedoso. Não houve lamento. Liddel, com a voz firme, disse olhando para o corpo que agora era chamuscado pelas chamas:

-era um parasita. Parasitas vivem da vida dos outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...