quarta-feira, 7 de abril de 2010

Conto Sujos - Dignidade - Parte 2


Se você não está acompanhando este conto, a primeira parte está logo aqui em baixo. Se está, manda bala na segunda!

Houve constrangimento. Enquanto alguns amargavam mais uma dose cavalar de raiva, outros não sabiam o que fazer. Aquela era uma cena, que apesar de se repetir seguidas vezes, nunca poderia ser considerada como algo comum.

O alarme que marcava o horário de almoço tocou. Foi um alívio para todos. Aquela pausa não poderia vir em horário melhor. O clima que já não era dos melhores, apenas piorou.E de forma drástica.

O almoço normalmente era feito em silêncio. Não havia motivos para conversa. A comida era ruim. Pesada. Parecia ser preparada para que ninguém sentisse fome durante uma semana. O grande refeitório escuro e opressor não tinha qualquer tipo de atrativo para aquele momento.

Era inevitável não ver aquilo como um cocho, onde os animais eram colocados em regime de engorda. Desta vez, Liddel se sentou ao lado de Melvin. O que tinha a falar tinha que ser dito “em silêncio”. Sempre desconfiavam que em cada ponto da Usina estavam instaladas escutas.

Enquanto Melvin mastigava algo se parecia ser um pedaço de carne, Liddel falou:

-vi o que aconteceu lá em baixo. Por que você não reagiu?
-não tenho por que reagir. Não tenho para onde ir. Não posso perder meu emprego.
-nós temos perdido muito mais do que um emprego...

Liddel empurrou aquela porcaria goela a baixo, enquanto pensava em como reverter a situação. Sem perceber, o tempo do almoço se esgotara. Era hora de voltar para as caldeiras. Largou o prato em cima da mesa, com boa parte daquela coisa semelhante a comida.

A caminhada de volta foi feita em clima fúnebre. Liddel reparava nos rostos cansados daquela humilhação e desgastados de jovens que um dia tiveram algum tipo de sonho. E que agora, a todo tempo, eram lembrados que a porcaria do mundo funcionava com uma dinâmica diferente. Que a lógica era dos que tinham e dos que não tinham, dos que estavam no "topo" e dos que estavam na base. Se o primeiro passo não fosse dado, tudo continuaria da mesma forma. Sempre.

Continua...

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