segunda-feira, 31 de maio de 2010

Cinema Livre - Central do Brasil: um retrato fiel dos brasileiros e seus sonhos



Na década de 90 a moral do cinema brasileiro estava em baixa. Nos primeiros anos da retomada cinematográfica, as produções eram poucas e o interesse do público no que era produzido em terras tupiniquins era quase inexistente.

Parecia que a coisa não ia mais pegar no tranco.

Eis que para levantar a nossa auto-estima surge Walter Salles e a sua magnífica obra Central do Brasil, levando mais de um milhão de pessoas aos cinemas, arrebatando prêmios ao redor do mundo e emocionando até aquele espectador mais durão.


Era o Brasil botando bronca no cinema mundial mais uma vez.
No festival de Berlim (um dos festivais de maior prestígio do cinema), Central do Brasil ganhou o Urso de Ouro de melhor filme e a grandiosa Fernanda Montenegro levou merecidamente o Urso de Prata de melhor atriz.

Central também ganhou o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e ainda foi indicado ao Oscar nesta mesma categoria, perdendo para o também excelente, porém inferior na minha opinião, A Vida é Bela. Além disso, Fernanda Montenegro concorreu à estatueta dourada de melhor atriz, feito que nenhum outro intérprete brasileiro jamais alcançou antes ou depois.

Prova incontestável de sua esplêndida atuação, uma das melhores que já vi na tela. Como ela perdeu o prêmio para a atuação sonsa de Gwyneth Paltrow em Shakespeare Apaixonado ainda permanece como um dos maiores mistérios da humanidade.


Fernanda interpreta Dora, uma ex-professora de caráter duvidoso que ganha a vida escrevendo cartas para analfabetos na estação ferroviária Central do Brasil. Dora é a típica figura brasileira, sofrida e desiludida.

Josué, interpretado pelo jovem e excelente Vinícius de Oliveira (o garoto era engraxate e foi descoberto por Salles num teste de elenco) é um menino arredio, embrutecido, acostumado a desconfiar dos outros e que perde a mãe no início do filme, atropelada por um ônibus. Sozinhos no mundo, cada um à sua maneira, Dora e Josué terão os seus caminhos cruzados e iniciarão uma profunda amizade ao longo da viagem que farão Nordeste adentro em busca do pai do menino.

Junto com eles, vamos conhecer um pouco mais do nosso Brasil, as crenças, a cultura peculiar, o povo sofrido, o povo trabalhador. A câmera inteligente de Walter Salles atinge a harmonia entre panorâmicas que exploram a vastidão do interior do Brasil e closes que buscam as histórias pessoais de cada rosto.

O trabalho do excepcional diretor de fotografia Walter Carvalho e a belíssima música de Jaques Morelenbaum e Antonio Pinto são verdadeiros achados.


Mas é a transformação radical dos personagens ao longo do filme (mérito do roteiro de Marcos Bernstein e João Emanuel Carneiro) que mais impressiona, como a vida de cada pessoa pode ser afetada por quem menos se espera e como a fé e a esperança podem realmente guiar os passos de quem nunca desiste.

Walter Salles é um dos melhores diretores em atividade hoje no mundo. Aqui, em Central do Brasil, ele conseguiu extrair a alma do brasileiro e apresentá-la ao mundo inteiro.

De quebra, provou que o nosso cinema é incrivelmente talentoso e calou a boca de quem não acreditava nisso de uma ver por todas.

E fez tudo isso com a simplicidade de um gênio.

Central do Brasil (1998) – de Walter Salles
Assista ao trailer: http://www.youtube.com/watch?v=JSWgOhRjJmo

Gabriel Fonseca

4 comentários:

  1. Ótima crítica!
    Este um filme é um belo e ao mesmo tempo triste retrato do nosso Brasil... usando as palavras de Datena, é um "tapa na cara da sociedade"... mas também é uma grande lição de vida que se pode aprender com a libertação de Dora da sua vida mesquinha e vazia a partir da "adoção" de Josué

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  2. Central do Brasil é mesmo espetacular e mostra com propriedade a alma do povo braseleiro. O crítico Gabriel fonseca retrata com clareza a importância do filme para o cinema nacional e sua repercussão a nível mundial. Parabéns pela crítica.

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  3. Adoro Central,
    sempre choro no final...
    aquele Oscar tinha q ter sido da Fernanda.
    a atuação dela é sublime.
    bjoss Biel... vc é bommesmo!

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  4. É isso aí o cinema brasileiro tem de sobra o mais importante " O TALENTO " inclusive para superar os baixos orçamentos. Parabéns pela crítica inteligente cara, vc é fera. Valeu!

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