segunda-feira, 13 de junho de 2011
Trilogia “Mazela Social” – Parte 1 – Ônibus 174
Quando soube que haveria uma continuação de “Tropa de Elite”, imbuí-me de um sentimento de reprovação. Achei que a sequência seria uma obra caça-níqueis e, principalmente por ter subestimado a qualidade do primeiro filme, virei as costas para o segundo. Por um tempo, pelo menos. Acontece que um confiável amigo, que compõe esta patota imunda, disse-me, logo depois de assistir ao filme: “É dez vezes melhor que o primeiro.” E é mesmo. Assisti ao filme e, de tão impressionado, saí do cinema com vontade de dar porrada em político.
Aos poucos, fui me interessando cada vez mais pela polêmica levantada pelo diretor José Padilha. Li/vi muitas coisas que disse em entrevistas, inclusive a respeito da relação “Ônibus 174- Tropa de Elite – Tropa de Elite II”. Esta pauta e as próximas três da coluna Cultura Suja tratarão a respeito das obras que compõem a trilogia.
Começamos com “Ônibus 174”, o documentário que narra o fatídico seqüestro de um ônibus na Zona Sul do Rio, em 2000. A riqueza de imagens e depoimentos prende o expectador do início ao fim, considerando a interessantíssima história do protagonista/vilão Sandro do “Nascimento”. “Nascimento?” “Nascimento” de Capitão Roberto Nascimento. Isso mesmo, o diretor deu sobrenomes iguais, pois considera-os “duas faces da mesma moeda”.
De um lado, Sandro, ex-menino de rua, vítima do massacre da Candelária. Uma figura cuja vida recheada de tragédias simboliza de forma poética a classe dos fracos e oprimidos. De outro lado, o temido Capitão Nascimento, líder do BOPE, mecanismo criado pelo sistema para reprimir a bandidagem que domina as favelas cariocas.
No paroxismo do filme, toca-se numa ferida incômoda: a “invisibilidade” dos marginais brasileiros. O que pode se esperar de pessoas que crescem sem educação, muitas vezes sem família, e sem reconhecimento? Isto me remeteu a uma lembrança, até então inexpressiva. Estou caminhando por uma rua erma de Juiz de Fora, no sentido oposto do que, a julgar pelo tipo físico, indumentária e postura, era para mim um bandido.
A andrenalina subiu, as pernas bambearam, mas eu continuei no mesmo sentido. Pensei em desviar, atravessar a rua, porém, pensando de novo, prossegui. O jovem me abordou: “Aí, mermão, tem um trocado pra eu tomar um café?” “Pô, cara, num tenho, to só com a passagem”, menti, descaradamente. “Tá beleza, broder, tu atendeu, prestou atenção, valeu.” Se eu tivesse atravessado a rua, o que teria ele feito?
Arthur Viggi
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