terça-feira, 17 de maio de 2011
Contos Sujos - Noite de três prazeres
Frente à folha branca, sem qualquer coisa em mente a produzir, resolvi escrever para Deus.
Meu bom Senhor é mais que natural que, mesmo em sua magnitude, desconheça a voz desse vagabundo. Talvez Lhe desperte uma reminiscência, pois em infância algumas vezes falava com Vossa Divindade, embora meus ouvintes preferidos tivessem sido Seus capachos alados.
Faço disso uma carta aberta de elevada sinceridade. Às vezes, divago solitário: Tu és mesmo um bom velho de cabelo e barbas longas, brancas como nuvens que correm o céu? Caminhas sobre montes fartos de oliveiras? Habitam em ti, toda a sabedoria e amor? Amas sobretudo teus rebeldes filhos? Guardas a todos eles um paraíso, e para isso, precisam, apenas, ajoelhar e pedir perdão pelos atos cometidos?
Não posso acreditar em nenhuma das imagens que descrevi acima ou em outras comumente disseminadas. Mas para meu coração é mais difícil duvidar que Algo Maior exista. A dúvida que não consigo fazer absoluta se torna uma pequena fé.
Nessa pequena fé, suponho agora o velho gris com sorriso impertubável a me escutar. Compreendo a olhar no fundo dos olhos - de intesidade multicolorida - que para minha proteção não ouvirei nenhuma palavra. Metafísicamente, entendi que ouvir uma palavra tua seria como receber um beijo de uma deusa pagã da insanidade. Qualquer resposta deveria vir no simples fito desse rosto etéreo. Experimentar a paz sóbria do semblante que venceu o tempo, me fez distrair por um instante de minha missão.
Deus ou seja lá qual for teu nome, por que motivo tanta compaixão? Teus filhos fazem da devoção a ti a primeira razão das perversidades. A noção de fraternidade sucumbe às disputas do poder, todos têm o desejo de ser forte, contudo se escondem na escória do pensamento fraco. Dizem a todos os outros: é condenável querer riqueza, fazem dos mais inocentes orgulhosos de sua miséria, e mesmo entre os miseráveis verás teus filhos menos fracos explorarem outros em estado quase bestial. Bestial não, se ainda bestas fossem haveria qualquer fúria subconsiente. São ovelhas semimortas agradecidas por suas (quase) vidas.
A atrocidade que se inicia ao nascer do sol não irá para o travesseiro do perverso. Pois, em prece a ti se perdoará de todos os pecados, para repití-los amanhã. Velho-Maior-que-Tudo esqueça, por favor, o mundo por algum tempo. Deixe que a natureza transforme a pedra lançada sobre o outro em boomerangue que retorna certeiro e letal.
Meu velho; eu não te amo sobre todas as coisas,
eu não sou capaz de amar o próximo como a mim mesmo.
Eu sequer tenho muito amor próprio.
E, essa alma que nunca te pediu nada, hoje clemente se rende:
- Ensurdeça, não salve o mundo de nós mesmos todas as noites. Vá em descanso para uma estrela distante e passe as rédeas do mundo a Keroauc ou a outro semideus sarcástico da literatura mundana.
Depois de terminar a epístola para Deus, meus olhos pesados se fecharam e meu corpo cansado, autômato, deitou a cabeça sobre os braços.
...caminhando no inferno vi uma série de demônios, continuei minhas passadas vendo todos os tipos deles. Mais humanos do que repugnantes. Todos eles eloquentes, e após provar do silêncio divino, percebi a perversidade das palavras. A palavra é mais veneno do que semente.
Segui inferno a dentro com certo instinto de orientação e não tive dúvidas quando me deparei com meu demônio particular: Uma garota de dezesseis anos nua, de beleza irresistível, que a primeira ordem obedeci:
- Me foda logo, seu merda!
Com a frase suja meu pênis penetrou aquele anjo caído. Naquele instante, pude sentir separados meu corpo e alma. Meu corpo era pura pulsão sexual, e a alma observava a carne enquanto ouvia a lince do inferno. As palavras demoníacas não marcaram a minha memória, embora tanto tivesse lá escutado, de nada sou capaz de me lembrar. A não ser das experiências do corpo. A cada vez que o pênis entrava na lolita infernal revezei diferentes sensações. Na primeira penetração ela teve um orgasmo pleno e apaixonado, na segunda penetração, vi olhos lacrimejantes de uma vítima de estupro.
A ninfeta revezou as duas facetas, a cada vez que a fodia. Em pouco tempo, quando percebi a dinâmica, quis parar...não queria ser um estuprador, mas em poucos instantes, pensei; "só mais uma vez" para poder ver de novo a faceta do orgasmos daquela menina. E a vontade de ver o rosto tenro de menina entre a dor e o prazer fez com que, aos poucos, não me importasse para o abuso que cometia. E, em transe de tesão corpóreo passei a preferir o corpo que sofria, a alma que observava distante também provou desse desejo e agora ninfa era uma menina indefesa que se debatia inutilmente sob o meu corpo. Quando dei àquela menina a maior dor que poderia fazê-la sentir, ouvi um adeus da minha puta maldita, seguido uma risada temível.
Acordei em suor e êxtase, em um movimento brusco levantei da cadeira que riscou o chão num som estridente e, por certo perturbou o sono tranqüilo e profundo de alguém. Após o susto do despertar, senti a noite gelada e tremi de frio. A certeza que tudo havia sido real me fez ajoelhar aos pés da cama e pedir perdão. a Quem ? Ao mesmo Deus que talvez agora seja surdo, a meu pedido. Tirei os joelhos do chão, como o suicida que hesita o passo fatal, e fui à janela apreciar o vento frio que o mundo oferecia ao meu corpo, em definitivo conclui: o minuano arrepiando minha pele foi meu segundo prazer sincero daquela noite.
Sobre a escrivaninha vi de soslaio a carta para Deus ilegível, borrada por meu suor. E o meu terceiro prazer se realizou ao supor que em covardia, O Todo Poderoso censurou minha súplica.
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