segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sujos Factual - Mudanças globais, atitudes locais

“Não se apaixonem por si mesmos, nem pelo momento agradável que estamos tendo aqui. Carnavais custam muito pouco – o verdadeiro teste de seu valor é o que permanece no dia seguinte, ou a maneira como nossa vida normal e cotidiana será modificada.”
Slavoj Žižek (filósofo e teórico crítico esloveno, durante discurso no Occupy Wall Street, de Nova Iorque. Íntegra do discurso traduzido no link:

http://boitempoeditorial.wordpress.com/2011/10/11/a-tinta-vermelha-discurso-de-slavoj-zizek-aos-manifestantes-do-movimento-occupy-wall-street/

Essa frase de Slavoj Žižek resume em algumas palavras o que venho pensando a respeito do movimento de Ocupação que está acontecendo pelo mundo afora. O Occupy Wall Street, que tomou dimensão global e que defende, entre as inúmeras bandeiras, mudanças no capitalismo, já está presente em mais de 70 países e já chegou ao Brasil, com cerca de 200 manifestantes acampados no Vale do Anhangabaú desde 15 de outubro.

Em São Paulo, o #AcampaSampa se tornou porta-voz de diversos movimentos: contra a corrupção; fora Ricardo Teixeira; contra Belo Monte; contra a homofobia; e inúmeras outras causas justas que devem ser discutidas e colocadas em pauta (clique aqui para ver o manifesto do grupo brasileiro).

A ocupação do espaço público como forma de manifestação popular é uma estratégia certeira para chamar a atenção das pessoas e alimentar o movimento. Diversas ações estão acontecendo no centro de São Paulo, em virtude do AcampaSampa: aulas abertas para a comunidade; manifestações de conscientização da população; apresentações de músicos e discussões acerca de modelos possíveis de convivência social.


E tudo isso feito no meio da rua, um espaço de passagem que, de uma hora para outra, se torna um espaço de discussão dos rumos sociais, com participação de professores, estudantes, trabalhadores e moradores de rua, ou seja, dos cidadãos. Fenomenal!


Porém, não há como falar da substituição do capitalismo de uma hora para outra. Isso demorará décadas ou séculos! (Sim, eu acredito que, com a facilidade de comunicação e difusão da informação promovida pela internet e redes sociais, é necessário viabilizar outros modelos de governo e organização social mais democrático do que a atual “democracia” dos estados presidencialistas, principalmente no caso do Brasil, com essa credibilidade ridícula que o modelo político possui.)


Mas qual será o passo para a conscientização das pessoas que não podem estar acampadas nas ruas? É necessário promover ações que façam as pessoas pensarem sobre suas formas de lidar com o consumo e com o meio ambiente e sair da zona de conforto que as mantém alienadas e tão intrínsecamente ligadas às merdas do mundo.

Façamos um teste: se os Occupy’s pretendem diminuir a intensa acumulação de capital de banqueiros, proponhamos uma coisa: Vamos encerrar nossas contas bancárias?! É possível abrir mão de um serviço tão simples do nosso dia-a-dia e pensar em outra forma de garantir o dinheiro e crédito? Comé que faz?

Se 1% das pessoas pelo mundo abrirem mão de suas contas nos bancos, já seria um grande impacto para as instituições, não? Talvez assim, as instituições financeiras começariam a sentir o peso da organização popular e passariam a respeitar mais quem dá lucro para eles, que é o cidadão comum.

Com relação à usina de Belo Monte, por exemplo, podemos propor também outra atitude social: vamos consumir menos energia elétrica?

Vamos provar ao governo que não é necessária mais uma usina hidrelétrica gigantesca para garantir o funcionamento das cidades? O desperdício de energia elétrica contribui para que o governo tenha esses planos absurdos de colocar mais uma grande hidrelétrica no país. Se é para gastar nosso suado dinheiro, vamos gastar com produtos que sejam usados a partir de energia mais limpa? Se cada pessoa consumir 20% a menos de energia elétrica, e enviássemos esses números ao Congresso, algo poderia ser diferente?

Conseguindo provar em números que a sociedade é capaz de se organizar para demonstrar seus pontos de vista, é possível provar por A+B que certas atitudes são absurdas. Afinal, o que o capitalismo quer? Que sejamos mais consumistas. O que podemos fazer contra isso? Consumir menos e com mais qualidade, digamos. É possível?


Se houver disposição e atitude, sim. Afinal, o que podemos fazer para diminuir a injustiça social pelo planeta? Não fiquemos apenas no plano das ideias! Façamos alguma coisa! O debate é responsabilidade de todos.

Continua....

Por Itamar Dantas

Culto e Grosso - Ternos e Carros

Confiança, poder e status. Basicamente são alguns dos fatores que a junção entre carros e bons ternos podem trazer ao homem. Certa vez ouvi uma frase de uma mulher dizendo que uma mulher conhece um homem de verdade quando este tem um carro. É plenamente possível que ela esteja certa.

Um bom carro é o sonho de qualquer homem médio. Um modelo esportivo é quase um fetiche em quatro rodas. É impossível para qualquer um não se sentir poderoso guiando um Ferrari pelas ruas. Primeiro por que o próprio carro exala o sentimento. E segundo por que as pessoas percebem isso. É estampar na sua testa que você é bem sucedido.

Um bom terno também. Homens que possuem algum tipo de poder normalmente usam ternos bons. Não, o modelo aqui não é o chefe que manda em você. Estamos falando de peixes grandes, os caras que mandam no dinheiro do mundo e que comandam a vida de milhões. Veja que estão sempre alinhados com ternos rigorosamente bem cortados. Você não verá um cara destes andando com coisa vagabunda.

Ternos e carros formam uma combinação capaz de provocar o sentimento em seu semelhante e instigar todo tipo de reação. Se um dia você se tornar um destes caras que mandam no mundo, comece por uma destas coisas para você ser visto como tal.



quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Conto Sujo - A arma

Mais um trago daquela cachaça ardida, de péssima qualidade, que pra ele já não fazia diferença. Nunca conhecera coisa melhor, em uma vida pobre e dura. Mais um trago. Dentro daquele quarto escuro e úmido, com um prego solitário que já havia acolhido algum quadro igualmente sujo e de mau gosto. Hoje era só um prego pendurado ao léu, sem importância nenhuma pra ninguém.


Aquele homem – ou fora um – nunca havia sido feliz. Com oito irmãos pra sua mãe solteira criar, ele (o terceiro dentre eles) era apenas outro filho em uma fila para comer. Nada de amor, o que importava era ter o que comer no dia seguinte. Não havia tempo para outro tipo de sentimento. “Só quem passa fome pra entendê essa merda”, pensava ele.

Reparou no quarto que ele alugava de uma velha grossa e sovina – lembrava sua mãe – e não conseguia deixar de se sentir parte daquilo. Sujo, velho, inútil. Mais um trago. Há tempos que a cachaça não fazia diferença. Sua tentativa de esconder toda uma vida extremamente amarga e cruel já não era possível só com álcool. “Priciso acabá com essa porra”. Sabia que comprara aquele .38 de um conterrâneo cearense não pra sua segurança, afinal ninguém ia roubar um homem como ele. Já olhava para a arma – também suja e velha, como seu quarto de hotel e sua vida – da forma com que olhava para a cachaça. Seria a solução de seus problemas. Definitiva, rápida e eficiente.

Uma bala, um giro no tambor e um toque do destino. Será? Sua dúvida consumia o pensamento. Não por medo de morrer, já que não valia a pena viver desde que se entendia por gente. Sua preocupação era justamente a roleta-russa roubar-lhe a vez, assim como a vida fez com ele. Teria coragem de acertar a bala e meter o cano daquele ferro frio na boca? Nunca fora decidido, não sabia se seria agora, justamente pra dar cabo de uma vida insegura, infeliz e derrotada.

“Foda-se”. Pegou .38 enferrujado com uma mão, agarrou o aguardente com a outra e sentou-se na cama de costas para o prego. Era seu retrato no quarto. Lembrou de sua mãe, magra, esfomeada e com dois de seus sete irmãos no colo. Ela acenava pra ele, convidando-o a juntar-se a ela. Os olhos marejados não mais conseguiam focar aquela parede descascada. Já estava morto e não sabia. O caminho da arma entre a cama e a boca foi percorrido com naturalidade. Ela estava leve. Esqueceu que a bala não estava na posição correta, e poderia não haver o tiro de misericórdia.

Tarde demais. Já estava a caminho de encontrar sua mãe.

Por Cleo Linhares

Música Suja - Não fosse o bom humor...

A bundamolice musical é um artifício estético e ideológico massificado na cena roqueira contemporânea. O panorama Pós-LOSERmanos reverbera essa tendência na concepção aurea mediocritas tupiniquim. Basta ligar os canais da moda adolescente e observar o quão encharcada está sua programação desses arquétipos: meninos fazendeiros/semi-filósofos – que fariam o cínico Diógenes no mínimo vomitar - e meninas neohippies/pseudo-mpb.

Pois bem, o fato é que o observador atento não consegue mais desvencilhar-se da “boa nova”. Essa standardização cristalizou-se em nossa produção musical de tal forma que a grande mídia criou uma espécie de ditadura dos “caras do bem”.Para fazer sucesso nessa nova safra do Rock cult e “cabeça”, meus amigos, basta seguir a trivial receita:

Letargia + Fatalismo + Algumas pitadas de pós-modernidade!

Deixe em banho-maria (para soar underground) e sirva frio!

Está pronto o novo conjunto genial, salvador da pátria Rock, durante um ano na MTV!

Para não repetir a velha máxima “O Rock acabou”, vamos ao que considero como ponto fora da curva! A quem ainda não conhece trago nesta matéria o sólido trabalho da banda gaúcha Superguidis.

Formada em meados de 2003, a banda está no seu terceiro trabalho discográfico e vem participando dos principais festivais de música alternativa pelo Brasil. A coroação veio no ano de 2010 com a apresentação no consagrado SWU. Sem querer criar categorias, nem buscar definições rasas, apenas pelas influências do grupo, segue abaixo o videoclipe da nervosa “Não fosse o bom humor”, música do álbum homônimo e recente. Tirem suas próprias conclusões!

http://www.youtube.com/watch?v=cC_wKVSgvJo

http://www.youtube.com/watch?v=vpLfckcfMJk&

Por Carlos Carvalho

Culto e Grosso - A opinião


Os tempos não são bons para quem tem opinião. As redes sociais estão deixando as pessoas cada vez mais presas em mundinhos de amizades duvidosas e caixas de vidro virtuais. A sensibilidade é cada vez maior e o despreparo em relação à crítica é algo cada vez mais grave.

Sim, as redes sociais são fascinantes. Um caminho rápido que conecta você a muitas pessoas, lugares e oportunidades. Mas ao mesmo tempo, a junção do espaço real e do virtual promovem uma falsa sensação de proximidade que impede o debate e cria grupos de opinião que defendem seus pontos de vista como xiitas. É um ataque a opinião na forma de likes e dislikes.

Particularmente uso minhas redes sociais em caráter experimental, com o objetivo de tentar entender o comportamento do ser humando diante de pontos de vistas distindos sobre assuntos diversos. Neste tempo em que venho realizando estes testes, consegui chegar a algumas conclusões:

-a opinião é algo valorizado, quando condizente com o ponto de vista da massa. Ou seja, quando é o que as pessoas querem escutar

-as pessoas estão carantes de opinião

-a responsabilidade sobre o que se diz não existe. Existe apenas a vontade de dizer

-Em situações de confronto de opinião, não existe debate. Dois grupos se formam: os que são contrários e os que são a favor e cada um defende o seu ponto de vista

-Discussões não terminam com conclusões. Cada lado sai de cena sinicamente mantendo seu ponto de vista inalterado

Diante desta pequena observação, é importante ressaltar que a geração que está crescendo nas redes sociais já vem com esta programação, ou provavelmente virá.

Outro ponto é que estamos próximos de um grande evento em que o debate e o confronto de ideias são as principais ferramentas para avaliação dos fatos: o processo eleitoral.

O que, diante deste quadro, faz com que possamos vislumbrar um cenário de confronto nas redes sociais entre as principais correntes partidárias.

É um horizonte que particularmente me dá medo.

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