“Não se apaixonem por si mesmos, nem pelo momento agradável que estamos tendo aqui. Carnavais custam muito pouco – o verdadeiro teste de seu valor é o que permanece no dia seguinte, ou a maneira como nossa vida normal e cotidiana será modificada.”
Slavoj Žižek (filósofo e teórico crítico esloveno, durante discurso no Occupy Wall Street, de Nova Iorque. Íntegra do discurso traduzido no link:
http://boitempoeditorial.wordpress.com/2011/10/11/a-tinta-vermelha-discurso-de-slavoj-zizek-aos-manifestantes-do-movimento-occupy-wall-street/
Essa frase de Slavoj Žižek resume em algumas palavras o que venho pensando a respeito do movimento de Ocupação que está acontecendo pelo mundo afora. O Occupy Wall Street, que tomou dimensão global e que defende, entre as inúmeras bandeiras, mudanças no capitalismo, já está presente em mais de 70 países e já chegou ao Brasil, com cerca de 200 manifestantes acampados no Vale do Anhangabaú desde 15 de outubro.
Em São Paulo, o #AcampaSampa se tornou porta-voz de diversos movimentos: contra a corrupção; fora Ricardo Teixeira; contra Belo Monte; contra a homofobia; e inúmeras outras causas justas que devem ser discutidas e colocadas em pauta (clique aqui para ver o manifesto do grupo brasileiro).
A ocupação do espaço público como forma de manifestação popular é uma estratégia certeira para chamar a atenção das pessoas e alimentar o movimento. Diversas ações estão acontecendo no centro de São Paulo, em virtude do AcampaSampa: aulas abertas para a comunidade; manifestações de conscientização da população; apresentações de músicos e discussões acerca de modelos possíveis de convivência social.
E tudo isso feito no meio da rua, um espaço de passagem que, de uma hora para outra, se torna um espaço de discussão dos rumos sociais, com participação de professores, estudantes, trabalhadores e moradores de rua, ou seja, dos cidadãos. Fenomenal!
Porém, não há como falar da substituição do capitalismo de uma hora para outra. Isso demorará décadas ou séculos! (Sim, eu acredito que, com a facilidade de comunicação e difusão da informação promovida pela internet e redes sociais, é necessário viabilizar outros modelos de governo e organização social mais democrático do que a atual “democracia” dos estados presidencialistas, principalmente no caso do Brasil, com essa credibilidade ridícula que o modelo político possui.)
Mas qual será o passo para a conscientização das pessoas que não podem estar acampadas nas ruas? É necessário promover ações que façam as pessoas pensarem sobre suas formas de lidar com o consumo e com o meio ambiente e sair da zona de conforto que as mantém alienadas e tão intrínsecamente ligadas às merdas do mundo.
Façamos um teste: se os Occupy’s pretendem diminuir a intensa acumulação de capital de banqueiros, proponhamos uma coisa: Vamos encerrar nossas contas bancárias?! É possível abrir mão de um serviço tão simples do nosso dia-a-dia e pensar em outra forma de garantir o dinheiro e crédito? Comé que faz?Se 1% das pessoas pelo mundo abrirem mão de suas contas nos bancos, já seria um grande impacto para as instituições, não? Talvez assim, as instituições financeiras começariam a sentir o peso da organização popular e passariam a respeitar mais quem dá lucro para eles, que é o cidadão comum.
Com relação à usina de Belo Monte, por exemplo, podemos propor também outra atitude social: vamos consumir menos energia elétrica?
Vamos provar ao governo que não é necessária mais uma usina hidrelétrica gigantesca para garantir o funcionamento das cidades? O desperdício de energia elétrica contribui para que o governo tenha esses planos absurdos de colocar mais uma grande hidrelétrica no país. Se é para gastar nosso suado dinheiro, vamos gastar com produtos que sejam usados a partir de energia mais limpa? Se cada pessoa consumir 20% a menos de energia elétrica, e enviássemos esses números ao Congresso, algo poderia ser diferente?
Conseguindo provar em números que a sociedade é capaz de se organizar para demonstrar seus pontos de vista, é possível provar por A+B que certas atitudes são absurdas. Afinal, o que o capitalismo quer? Que sejamos mais consumistas. O que podemos fazer contra isso? Consumir menos e com mais qualidade, digamos. É possível?
Se houver disposição e atitude, sim. Afinal, o que podemos fazer para diminuir a injustiça social pelo planeta? Não fiquemos apenas no plano das ideias! Façamos alguma coisa! O debate é responsabilidade de todos.
Continua....
Por Itamar Dantas