terça-feira, 2 de março de 2010

Culto e Grosso-No cu do Cult


Aproveitando o gancho dado pela coluna de ontem, segue mais um texto tratando sobre o assunto.

Para quem tem alguma relação com a área de comunicação, o texto “A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica”, de Walter Benjamim, é familiar. Segundo o autor, a possibilidade produzir em grande escala bens culturais, como pinturas, fotografias e artigos artísticos em geral tem papel fundamental na difusão e democratização do que se chama de arte. Claro, aqui trato brevemente do assunto, e reproduzo de forma tosca e pessoal a visão geral sobre o tema.

Walter Benjamim rivalizou com importantes estudiosos da área da comunicação, ao tratar o assunto com tal ótica. Theodor Adorno e Max Horkheimer, ambos da tradicional Escola de Frankfurt, ao contrário, enxergavam na reprodutibilidade uma ameaça à originalidade da obra e a possibilidade de que as massas fossem manipuladas por uma elite detendora dos meios.

Porém, nenhuma das duas teorias levou em conta o surgimento da Internet e dos demais meios de difusão da informação nos moldes que temos hoje (claro, o primeiro ensaio de Benjamim sobre o assunto foi produzido em 1936!).


Qual a relação disso com o que é cult e cool?

Hoje, o acesso é quase ilimitado. Praticamente se encontra tudo na rede mundial. De cds de forró à pinturas. De obras completas de importantes autores chegando a acessórios para o carnaval em Olinda. É fácil. E por isso, encontrar substituiu o que antes era conhecido como acesso.

Cultura erudita? Outro termo que parece perder o sentido. Pois também estava ligado diretamente à acesso, e a custo ($).

Então como classificar o que é bom ou ruim? Com a busca.

Note que o monopólio da informação atualmente se dá pela velocidade, pelo ineditismo e pela forma como se chega à ela. A qualidade em si fica para uma análise posterior, caso se faça necessária, mas são Cults e Cool´s que puxam o bonde e ditam as regras. Se você concorda ou não, aí é outra história.


O fato é que, no sentido oposto da democratização e da popularização, o que se busca é a particularidade. Cultura e informação de qualidade, é aquela que poucos conhecem, ou poucos encontraram, reconstruindo os conceitos de Theodor Adorno e Max Horkheimer em um novo cenário.

Experimente dizer que um samba é bom. Ou que você está doido para comprar aquele cd de viola caipira. É provável que você receba olhares de reprovação, ou que o assunto se volte para o novo CD daquela banda experimental que você nunca ouviu falar.

E se de tudo ainda existir espaço para discussão, é provável que suas opiniões sejam tomadas como algo ligeiramente tosco. Incomodar-se com isso é da personalidade de cada um. O lance é saber que modas não são regras. E mesmo que ela faça uso de instrumentos populares ou tradicionais, ou basicamente seja consumida pelo povão, a qualidade dela não necessariamenteserá ruim. Seria determinista e simples demais.

Enfim, gosto é que nem bunda. O feio é usar calça xadrez e justificar a qualidade usando unicamente a esfericidade do umbigo cult-cool como padrão estético de uma sociedade que hoje é plural, diversa e tem, quando quer, acesso ao que julga ser bom.

Em uma próxima oportunidade falaremos sobre referências.

Marc Balender

2 comentários:

  1. “A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica”e todas as outras teorias são dignos de discussões atuais. É sempre bom resgatá-los,para repensar o futuro desta democratização do acesso aos bens culturais.
    Este alcance amplo relativiza esta relação e encurta distâncias. Afinal, o que é mesmo cult e erudito? Concordo, quando diz, que isto está ligado ao ineditismo. A questão é manter este artigo como inédito. Qual é a durabilidade? kkkk
    Bom texto!

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  2. belo texto, e a arte ainda pode ser re-contextualizada. Parabens.

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